Padre detido por escravidão e abusos: uns estão chocados, outros pouco surpreendidos
Entre os moradores de Horta do Douro, alguns já suspeitavam, mas outros não contavam com a detenção do padre António Fernandes Pinto, por suspeitas de se ter aproveitado da condição frágil de um homem de 44 anos, a seu cargo desde 2015, para o escravizar e abusar.
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Para uns, "já se estava à espera disto!". Para outros, "é um grande choque!". "O senhor padre sempre foi muito correto!", dizem ainda outros. Na Horta do Douro, aldeia de Vila Nova de Foz Côa, há opiniões diversas sobre o caso do qual toda a gente fala desde o final da manhã desta quinta-feira - o do pároco local, António Júlio Fernandes Pinto.
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Humberto Simão vive à frente da igreja matriz. "Eu só tenho a dizer bem do padre", avança, para logo acrescentar que ficou "chocado". Calhou, depois do almoço, ir à Sequeira, onde encontrou amigos que lhe falaram do assunto. "Por serem eles, acreditei. E fiquei muito surpreendido". Isto, apesar de, "à boca pequenina, já antes se ir dizendo qualquer coisa sobre o que ali se passaria".
Na opinião de Manuel Joaquim Gonçalves, não era assim tão pequenina. Esta quinta-feira, foi ao dentista em São João da Pesqueira e foi lá que soube da notícia. "Eu disse logo que, por acaso, já esperava isto". A desconfiança tinha por base "o facto de andarem sempre juntos e de ele [a alegada vítima] estar a usufruir por completo da casa paroquial que foi feita pelo povo". "Muita gente começou a desconfiar, porque ele [o padre] também já estava a querer pôr o pé em cima do povo".
Ouvindo Manuel Joaquim questionar "que devoção pode ter um padre que faz estas coisas", António Pinto atreveu-se a uma solitária frase: "Até tenho vergonha de ter o mesmo nome". Muitos outros, homens e mulheres, não opinaram sobre o assunto. Mas, à porta de casa, sem dizer o nome, uma mulher confessou que tinha boa impressão do padre. Até porque se preocupava com as pessoas. "Ele parava o carro e perguntava: "Então, vai melhor?" Ou seja, um homem respeitador". Todavia, "ficou chocada".
Tal como ficou "muito surpreendida" Julita Mesquita, pois "gostava muito do senhor padre". Por ser ele "tão gentil", mais em choque ficou. "Não havia motivos para desconfiar que uma coisa destas pudesse acontecer".
Da alegada vítima ninguém tem nada de pouco abonatório a dizer. Segundo Humberto Simão, "ocupava-se da limpeza na igreja, ajudava o padre na missa e abria o bar do centro de convívio". Apesar de ter "um bocadinho de deficiência, compreendia tudo muito bem e nunca disse nada do que se passava".