Arsénio Isidoro terá aproveitado as funções de presidente de várias instituições para se apropriar de fortuna.
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O padre Arsénio Isidoro e a gestora Ana G, o casal que o Ministério Público (MP) acusou de desviar perto de 800 mil euros de várias instituições particulares de solidariedade social (IPSS) ligadas à Igreja para fazer vida de luxo, terão comprado um barco que enviaram para São Tomé e Príncipe, onde iam juntos passar férias. Tudo à custa das instituições que geriam. Ambos vão ser julgados no Tribunal de Loures por crimes de abuso de confiança e branqueamento de capitais.
O dinheiro das IPSS terá também servido para comprar uma vivenda em Peniche, um Porsche Panamera e para um sem-número de outras despesas pessoais como viagens, refeições em restaurantes e roupas de marca.
Dinheiro às voltas
De acordo com a acusação, Arsénio Isidoro e Ana G. compraram, em agosto de 2008, por 24 245 euros, um barco da marca Quicksilver numa empresa de Peniche. Era o modelo 540 Cruiser, de 5,40 metros. A embarcação foi paga com dois cheques sacados de uma conta particular do padre. Porém, garante o MP, dias antes da aquisição, essa conta particular tinha sido aprovisionada com 23 620 euros provenientes de uma conta bancária titulada pela Associação Protetora Florinhas da Rua, que tinha a missão de acolher crianças em risco. A fatura e registo de propriedade ficaram em nome de Ana G. e Arsénio Isidoro utilizou o barco na zona das Berlengas até ao verão de 2009.
Nessa altura, os arguidos enviaram a lancha para a ilha de São Tomé, com o transporte a ser assegurado pela mesma empresa que a vendera. "Usufruindo do mesmo sempre que se deslocavam a São Tomé, para passar férias, pelo menos uma vez por ano, e sempre à custa das instituições que geriam", garante o MP, que acusou o casal de também ter comprado uma vivenda em Peniche, onde tencionariam fazer vida juntos. O terreno, com cinco mil metros quadrados, custou 60 mil euros pagos com fundos que terão sido desviados da "Florinhas da Rua".
Depois, contrataram a construção da vivenda, com piscina interior, por 210 mil euros. "Usaram os respetivos fundos para custear a aquisição de um terreno e edificação de um imóvel de que tinham intenção de usufruir, como casal e no âmbito da vida privada, embora o mesmo ficasse apenas registado em nome de Arsénio Isidoro", lê-se na acusação.
Para se deslocar entre Lisboa e Peniche o casal usava um Porsche Panamera igualmente comprado, segundo o MP, à custa das IPSS. Foram 167 mil euros alegadamente desviados do Instituto Sãozinha. O padre acabou por vender o carro por 50 mil euros em 2014.
A acusação sustenta que, entre 2007 e março de 2016, o padre e a mulher aproveitaram os cargos e os acessos às contas bancárias para desviarem dinheiro das IPSS. "O plano passava por se apropriarem das quantias a que tivessem acesso, por vias das funções que exerciam nas instituições, para satisfazerem necessidades da vida pessoal, mormente restauração, vestuário, viagens, viaturas ou outras que entretanto surgissem", garante o MP.
PORMENORES
Crianças em risco
O Instituto de Beneficência Sãozinha geria uma creche e um jardim de infância. Acolhia crianças em risco e com deficiência e recebeu, através de vários protocolos, 2,5 milhões de euros da Segurança Social, entre 2008 e 2014.
Tesoureira
Ana G., hoje com 56 anos, foi colocada como tesoureira ou administrativa em todas as associações que o padre Arsénio passou a liderar. O casal abandonou os cargos após ter sido constituído arguido na Polícia Judiciária de Lisboa, em 2016.
Porsche a prestações
Em 2010, o padre comprou o Porsche por 167 mil euros, com 65 mil de entrada e o resto foi pago em prestações.