O pároco de Samora Correia foi acusado pelo Ministério Público (MP) de um crime de abuso sexual de crianças por omissão e o antigo chefe dos acólitos de dois crimes de abuso sexual de crianças. As vítimas foram duas meninas de 12 e 11 anos. A Diocese de Évora já o afastou.
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A acusação do Ministério Público de Santarém diz que, em 2020, o padre Heliodoro Nuno, de 50 anos, foi informado dos abusos do ajudante de catequese Marco Ferreira a uma menina de 12 anos, mas escondeu-os. Um ano mais tarde, o abusador, seu afilhado de crisma e chefe dos acólitos, atacaria outra menina. Após a notícia da acusação, avançada pelo Porto Canal, a Dioceses de Évora abriu uma investigação e afastou o padre que estava há mais de dez anos na paróquia.
Marco Ferreira, atualmente com 41 anos, auxiliava na catequese da paróquia de Samora Correia. Em 2019, por sugestão do padre Heliodoro, foi padrinho de uma menina com algumas limitações de natureza cognitiva. Em março de 2020, após a catequese, Marco chamou a afilhada à casa de banho dos rapazes e apalpou-lhe e acariciou-lhe os seios. Disse-lhe para não contar nada à mãe, mas a menina relatou tudo à progenitora que confrontou o abusador e também o padre Heliodoro.
Não participou caso nem afastou abusador
O pároco proibiu Marco de continuar a auxiliar na catequese, mas não participou o sucedido à Diocese de Évora nem às autoridades policiais, nem mesmo tratou de o afastar dos muitos menores que frequentavam a paróquia. Aliás, Marco tornar-se-ia o chefe dos acólitos, por regra rapazes e raparigas menores de idade.
Em junho de 2021, antes de uma missa, Marco estava no salão paroquial da igreja com uma acólita de 11 anos. Levantou-lhe o top e apalpou-lhe repetidamente o seio, apesar de esta o afastar e dizer para ele parar. Ele levou-a então para uma sala contígua, mais escondida, onde se agachou e lhe tentou retirar as calças.
O abusador só parou porque ouviu um outro acólito a subir as escadas. A menina fugiu assustada e contou tudo à mãe que, por sua vez, fez queixa ao padre Heliodoro. Este mandou Marco despir a alva e proibiu-o de auxiliar na missa.
Dois crimes de abuso sexual
Os casos chegaram ao conhecimento das autoridades que, após investigação da Polícia Judiciária, no mês passado, acusaram Marco Ferreira de dois crimes de abuso sexual de crianças, um dos quais agravado, e Heliodoro Nuno de um crime de abuso sexual de crianças por omissão.
Para o MP de Santarém, competia ao pároco de Samora Correia zelar pelo bem-estar e segurança das crianças durante as atividades da paróquia. Porém, ao saber do ato praticado por Marco contra uma menor não comunicou o ocorrido às autoridades tendo até permitido que este continuasse a ter contacto com menores e a auxiliá-lo como acólito, o que veio a possibilitar que adotasse condutas similares com outra menor.
Já quanto a Marco Ferreira, que se encontra sujeito a prisão domiciliária, o Ministério Público considera que, não obstante ser portador de uma ligeira perturbação cognitiva, ele se aproveitou da relação de confiança que tinha com as duas menores - num caso por ser padrinho de batismo e noutro por ser chefe dos acólitos - para satisfazer os seus instintos libidinosos.
Diocese não foi informada
O MP reconheceu que a Igreja Católica, enquanto pessoa coletiva, pode vir a ser responsabilizada por crimes cometidos por omissão contra crianças confiadas a um padre. Porém, neste caso em concreto, o pároco nunca relatou o sucedido à Diocese de Évora, portanto esta não pode ser responsabilizada pelos factos ocorridos, refere a acusação.