Humberto Gama, em prisão preventiva desde a véspera de Natal, diz querer provar inocência. É suspeito de violar emigrante durante exorcismo, em Murça.
Corpo do artigo
Em prisão preventiva desde 24 de dezembro do ano passado, por suspeita de abusos sexuais, Marcelino Humberto Gama, mais conhecido por "padre Gama", de 84 anos, foi conduzido por guardas prisionais ao Instituto de Medicina Legal (IML) do Porto, esta semana, para se sujeitar, a seu pedido, a um exame forense com vista a atestar que sofre, como assegura, de disfunção erétil permanente, e que, portanto, era incapaz de abusar da emigrante que o acusa de violação durante uma sessão de exorcismo.
Como na altura o JN noticiou, Humberto Gama foi detido pela Polícia Judiciária (PJ) de Vila Real, tendo horas depois sido presente a um juiz de instrução, que lhe decretou a prisão preventiva. Foram considerados suficientes e fortes os indícios de pretensos abusos sexuais sobre uma mulher que o procurara na sua residência/consultório, em Cadaval (Murça).
Depressão era "o diabo"
"Ana" (nome fictício), uma emigrante de 40 anos, regressou à região de Basto, de onde é natural, em vésperas do Natal de 2021. A mulher acabara de se separar do marido, por iniciativa dele. Deprimida por se sentir incapaz de conseguir que o marido regressasse aos seus braços, "Ana" foi aconselhada por pessoas próximas a procurar "o padre Gama". Era um "santo", disseram-lhe, que tinha poderes e experiência para a exorcizar e libertar "do mafarrico" que lhe roía corpo e alma. Uns dias depois, estávamos a 21 de dezembro, sentindo-se extremamente fragilizada, "Ana" lá rumou a Murça, a casa de Humberto Gama, à procura de um milagre. Entrou profundamente deprimida e saiu pior.
Ao que o JN apurou, a senhora terá contado as suas mágoas ao ex-sacerdote - Gama foi expulso da Igreja sete anos depois de ter sido ordenado -, que logo lhe terá "confirmado" que o seu problema era o Diabo no corpo. Iria colocá-la sob hipnose para de seguida a exorcizar. "Ana" aceitou e, já em semiconsciência, terá sido agarrada e violada. Afirma ter-se apercebido e tentado reagir, mas não teve forças para se defender. Quando se conseguiu libertar e abandonar a casa do pretenso exorcista, foi queixar-se à GNR, que a encaminhou para a PJ. Sujeita a exames forenses, dois dias depois os resultados terão confirmado a alegada violação.
O padre seria detido na manhã de sexta-feira, véspera de Natal. Interrogado, negou tudo, exceto o "exorcismo", versão que manteve quando foi ouvido pelo juiz de instrução. Não convenceu o magistrado, que o mandou para prisão preventiva. Humberto Gama passaria a noite de Natal na cadeia de Vila Real, que continua a ser a sua residência.
Na última segunda-feira, conseguiu que lhe fizessem a vontade e o sujeitassem a perícias médicas para provar que há muito padece de impotência permanente.
OUTROS CASOS
Mulher apalpada
Em 2006, um casal de Ourém acusou Humberto Gama de, numa sessão de "exorcismo", ter abusado sexualmente da mulher. "Se a dor for nas costas, não vou apalpar a cabeça", justificou-se. O caso não chegou a tribunal.
Ferida nos lábios
Em 2018, Gama foi detido pela PJ de Leiria, por alegados abusos sobre uma mulher de 61 anos. Esta mostrou à PJ roupa rasgada, arranhões no corpo e ferimentos nos lábios. Gama foi acusado, mas pediu a instrução, e o caso não chegou a julgamento. A mulher recorreu para a Relação de Évora e aguarda resposta.
Ex-amigo atribui-lhe fortuna
Em 2018, o Ministério Público, a PJ e a ministra da Justiça receberam a denúncia de um ex-jornalista, outrora muito próximo de Humberto Gama, dizendo que este, em exorcismos e outros ritos, "terá arrecadado desde 2002 até 2018 uma quantia superior a 21 milhões de euros". Alertado sobre a fuga ao fisco, terá respondido ao então amigo que "os espíritos não pagam IRS".