O crime chocou o país. Um pai e uma madrasta que torturam uma criança de nove anos, com água a ferver e espancamentos. Deixaram a pequena Valentina agonizar durante horas até falecer para depois esconder o corpo numa floresta de Peniche. O julgamento do casal, que decidiu explicar os crimes aos juízes, arranca esta quarta-feira no Tribunal de Leiria.
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Havia cerca de um mês que Valentina tinha trocado a casa da mãe, no Bombarral, para a habitação do pai e da madrasta, em Atouguia da Baleia, Peniche. Lá viviam o pai, Sandro Bernardo, 33 anos, a madrasta, Márcia Monteiro, 39 anos, o filho desta, de 13, e ainda as duas filhas do casal, uma de cinco anos e outra com sete meses. De acordo com a acusação do Ministério Público de Leiria, Sandro estava convencido de que a filha tinha mantido contactos sexuais com colegas da escola. A 1 de maio de 2020, cinco dias antes de Valentina morrer, o pai confrontou-a com as suspeitas. Para a obrigar a falar, ameaçou-a com uma colher de pau. A acusação diz que Valentina acabou por admitir, mas não se percebe se foi para que a violência acabasse. Depois também disse que tinham mantido contactos sexuais com um indivíduo a que chamava "Padrinho" (o alegado abuso foi investigado pelo MP e arquivado). Sandro voltou a bater na criança, com a colher de pau.
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Já na manhã do dia 6 de maio, o pai voltou a confrontar a filha. Queria saber, a todo o custo, se ela tinha sido "violada". Seguiram-se mais agressões, a que a madrasta assistiu. Levou a menina para a casa de banho, onde a despiu parcialmente e a manteve à força na banheira. Ameaçou-a com água a ferver, sabendo que Valentina lhe tinha pavor. Como a filha nada revelava, atirou-lhe água a ferver para a zona genital, enquanto ela implorava que parasse. Ainda segundo o MP, perante a falta de resposta, Sandro deu-lhe murros por todo o corpo. Agarrou num chinelo e continuou a bater-lhe. Sempre perante a passividade de Márcia, Sandro deu uma forte pancada na cabeça da criança, provocando uma hemorragia interna. Valentina caiu, inanimada, e, pouco depois, começou a ter convulsões. Ninguém chamou por socorro. Deitaram a criança no sofá, onde ficou até à noite.
Durante a tarde, saíram de casa para fazer compras e ir à lavandaria. Quando perceberam que a menina morrera, decidiram esconder o corpo. Esperaram pela noite, colocaram-no no carro e conduziram nove quilómetros até uma zona florestal, na Serra d'El Rei, onde o pai escondeu o cadáver com arbustos. No dia seguinte, participaram à GNR que a menina tinha desaparecido. Foram presos dias depois e perante o juiz de instrução criminal confessaram tudo. Estão acusados de homicídio, ocultação de cadáver e violência doméstica. Arriscam 25 anos de cadeia.