Programa de prevenção está disponível online e segue 12 portugueses. Eficácia ronda os 60%.
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"A Pedofilia é uma doença crónica, que se mantém por toda a vida. As fantasias sexuais, sejam as normativas ou as problemáticas não desaparecem. Daí a importância da prevenção no caso destas últimas", afirmou, ao JN, o psicólogo Ricardo Barroso, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e responsável português pelo programa Troubled Desire (Desejo Perturbado) que presta ajuda online especializada a quem sofre de Pedofilia. De fora, realça, fica quem já cometeu crimes.
Desde que foi adaptado ao nosso país (tendo sido criado na Alemanha), em 2020, houve 28 portugueses que iniciaram o contacto e 12 estão a ser acompanhados. "Concluímos que 16 não sofriam de pedofilia [atração por crianças pré-púberes] ou hebefilia [atração por púberes ou recém-púberes] e os restantes necessitavam efetivamente de ajuda", revelou Ricardo Barroso.
Os 12 homens que estão atualmente a a ser acompanhados residem no Porto e em Lisboa e pertencem às classes média e média-alta.
"Estão conscientes do seu problema e sabem que nesta plataforma permanecem anónimos. É evidente que não conseguimos abranger todo o universo de adultos que sentem atração por crianças. Mas estes 12 sabemos onde estão, são acompanhados e não podemos esquecer que o programa tem uma eficácia de 60%, o que para nós é muito bom", realçou Ricardo Barroso.
Evitar os abusos
O psicólogo destacou que o problema é transversal a todas as camadas sociais e esta é uma forma de intervir antes de o crime acontecer.
"As vítimas sempre tiveram prioridade, mas assim conseguimos evitar os abusos, que podem traumatizar uma criança para a vida. O foco é o agressor e o programa tem tido bons resultados onde já está implantado. No início não era muito bem visto, mas foi fazendo o seu caminho", sublinhou o psicólogo.
O procedimento é simples. Basta entrar no site https://troubled-desire.com, selecionar o Português e preencher o questionário, que engloba também perguntas sobre eventuais problemas com a Justiça que possam ter ocorrido. O questionário é analisado no próprio dia e pelas respostas é "fácil perceber a gravidade da situação". Segue-se a intervenção psicoterapêutica, realizada por "chat" ou via Zoom.
"É normal os intervenientes começarem por usar máscara, pois ajuda-os a sentirem-se mais seguros. São pessoas com muitas dúvidas, que nunca falaram do seu problema a ninguém. Caso prefiram um atendimento presencial, são encaminhadas para um psicólogo (ou psiquiatra)", disse Ricardo Barroso.
O acompanhamento começa por ser semanal ou quinzenal e, ao fim de um ou dois meses, pode passar a mensal. "A periodicidade é ajustada posteriormente. E quando terminamos uma intervenção mantemos sempre uma porta aberta", concluiu o psicólogo.
Pornografia de menores pode levar a abusos
Ricardo Barroso alerta para os perigos da pornografia de menores, que surge muitas vezes associada a comportamentos pedófilos. "A visualização de vídeos e fotos com menores é crime mas, além disso, é uma forma de manter o problema. As imagens ativam sexualmente quem as vê e não duvido que muitos avançam para o abuso se a oportunidade surgir. É uma área complexa e até mesmo aqueles que se envolvem nela para fazer negócio, têm um comportamento criminoso".
Estatísticas
124 detidos por abusos
Segundo dados do Relatório Anual de Segurança Interna, em 2020 foram detidas 124 pessoas por abuso de crianças ou de menores dependentes e 33 por pornografia de menores.
5920 na lista de pedófilos
O Registo de Condenados por Crimes Sexuais contra Crianças contava, em março do ano passado, com 5920 identificados. Nome, idade e morada dos condenados são dados obrigatórios.