"Não era isso que queria dizer" foi a frase mais ouvida, esta quinta-feira, no Tribunal do Bolhão, ao comentador televisivo Pedro Guerra, que está a ser julgado por difamação com publicidade e calúnia e um crime de ofensa a organismo ao presidente do F. C. Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa e Luís Gonçalves, administrador da SAD do Porto, e ao próprio clube. Em causa estavam afirmações do comentador quanto à substituição do árbitro que iria dirigir a partida entre o Belenenses e o F. C. Porto, em 2018. Nas alegações finais o Ministério Publico pediu a condenação de Pedro Guerra por "extravasar a liberdade de expressão".
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Confrontado com as declarações então proferidas - "constou-me que o F. C. Porto se mexeu para que mudassem o Fábio Veríssimo [árbitro de futebol]" - Pedro Guerra afirmou, em tribunal, que o seu propósito era atingir o Conselho de Arbitragem.
"Mas lembra-se de ter dito isto?", questionou a juíza. "Se está na Acusação é porque sim. Mas não quis dizer isso", referiu Pedro Guerra, numa expressão que repetiu variadíssimas vezes ao longo do seu depoimento.
A polémica surgiu quando o comentador, falando no programa "Prolongamento", da TVI24, no dia seguinte ao jogo entre o B SAD e o FCPorto, e a propósito da substituição do árbitro Fábio Veríssimo por Carlos Xistra, afirmou, entre outras coisas que "constou-me que o FCPorto se mexeu".
Histórico de polémicas
Pedro Guerra explicou, ao Tribunal, que haveria "um histórico" de polémicas entre o clube e Fábio Veríssimo que motivaram as suas afirmações.
"Mas a minha crítica era dirigida ao Conselho de Arbitragem (CA). Queria perceber porque o conselho tinha mudado o árbitro e não vejo nada de mais nestas criticas. Quando soube o motivo da substituição de Fábio Veríssimo {morte de um familiar próximo] apresentei as minhas condolências e pedido de desculpas", explicou Pedro Guerra.
Desculpas que não foram extensíveis ao FCPorto e aos seus dirigentes, Jorge Nuno Pinto da Costa e Luís Gonçalves porque "as questões que levantei eram contra o CA", disse o comentador, admitindo que não se tenha "expressado bem".
Pedro Guerra, num longo depoimento, afirmou que este processo se deve a "perseguição" do F. C. Porto, cujo início remonta, disse, à divulgação dos seus emails e à "amizade" com o então presidente do S. L. Benfica, Luís Filipe Vieira.
Estranhou substituição
O Tribunal ouviu, ainda, o jornalista Joaquim Sousa Martins, que moderava o programa "Prolongamento", na TVI24. Segundo ele, os motivos da substituição de Fábio Veríssimo só foram conhecidos após a intervenção de Pedro Guerra.
"Li a notícia primeiro no jornal "O Jogo" e depois a régie também me alertou. Mas, antes disso, o Pedro Guerra tinha estranhado a substituição e não haver nenhuma informação oficial sobre ela. Mesmo depois de informado, não ficou muito convicto, o que levou a mais discussões com os outros comentadores [Manuel Serrão e Rodrigo Roquete]", disse Sousa Martins, acrescentando que "era um programa de afirmações fortes, às vezes sem adesão à realidade".
Durante as alegações o advogado do FCPorto e dos dirigentes do clube, André Domingues, defendeu que Pedro Guerra "propalou informações falsas e atentatórias da imagem e bom nome dos assistentes".
"As palavras falam por si. Foi jornalista e sabe da necessidade de fazer averiguações e do contraditório. E como comentador facilmente saberá confirmar a veracidade das informações. Mas criou nos espetadores a ideia de que os assistentes tinham influenciado a substituição do árbitro. E na altura poderia ter-se retratado", disse.
Dirigente "Jorge Costa"
A advogada de Pedro Guerra afirmou, por seu lado, que "não existiu nenhum crime, ofensa ou difamação" e que os assistentes "quiseram dramatizar para atacar o comentador por este seu próximo de Luís Filipe Vieira".
"Jorge Costa [Pinto da Costa], ao longo dos seus 40 anos como dirigente, teceu milhares de comentários sobre os árbitros. Basta ouvir as escutas do "Apito Dourado". Pedro Guerra recorreu às suas fontes e tinha dúvidas em relação ao Conselho de Arbitragem e não aos assistentes. Os comentadores são contratados e têm direito à liberdade de expressão. Os assistentes não necessitam de ninguém para denegrir a imagem da instituição que representam", disse.
A sentença foi marcada para o dia 1 de junho, às 14 horas.