Pirata colocou o blogue online quando viu o impacto de revelações de comentadores benfiquistas na TV.
Corpo do artigo
Rui Pinto criou o Football Leaks (FL) para revelar ao Mundo os negócios obscuros do futebol. E decidiu lançar aquela plataforma online após comentadores benfiquistas terem divulgado, num programa de televisão, propostas e acordos confidenciais entre clubes e jogadores de futebol, explica a contestação que a sua defesa entregou ao Tribunal Central Criminal de Lisboa. O pirata garante que não trabalhou sozinho, mas assume toda responsabilidade. Está acusado de 90 crimes. O julgamento começa a 4 de setembro.
O FL nasceu a 29 de setembro de 2015. À imagem do Wikileaks, "pretendia, com transparência e verdade, divulgar documentação original e integral, sem omissões ou truncagens", recorda a contestação, assinada por Francisco Teixeira da Mota e Luísa Teixeira da Mota, advogados de Rui Pinto. A ideia do blogue era permitir que os amantes do futebol pudessem perceber como funcionavam os negócios obscuros do futebol.
12553233
Rui Pinto assume todas as responsabilidades na criação do FL, "mesmo por factos que não cometeu, por informações a que não acedeu pessoalmente e por posts que não foram por si publicados".
O pirata assegura que "não atuou sozinho" e que "uma parte substancial dos documentos" foi enviada para o email do FL. Mas desde já adianta que não identifica as fontes ou os outros participantes no blogue "por entender que têm direito ao anonimato".Na contestação, Rui Pinto explica que a colocação online do blogue foi motivada pela divulgação - "a que foi alheio", frisa - de propostas e acordos confidenciais entre clubes e jogadores de futebol. E concretiza.
Guerra, Simões e Gobern
Em setembro de 2015, na TVI24, o comentador desportivo Pedro Guerra apresentou um esboço de um acordo falhado entre o Sporting e o Fulham relativo ao jogador grego Mitroglou. Na mesma altura, outros dois comentadores afetos ao Benfica, António Simões, na SIC Notícias, e João Gobern, na RTP3, revelaram detalhes de uma proposta feita pelo Sporting ao jogador Cervi e o envolvimento de um fundo africano nesse suposto negócio.
12541779
Rui Pinto salienta que não foi ele a fonte dos comentadores. Antes, aproveitou-se do impacto mediático daquelas revelações para, no final desse mês, lançar o FL. O "pirata" português faz questão de lembrar que a divulgação integral dos documentos do FL teve repercussão mundial e foi de grande importância para as autoridades judiciárias europeias e as entidades de regulação do meio futebolístico iniciarem inquéritos.
Interesse após rumores de "esquemas" de financiamento que envolviam F. C. Porto
A defesa de Rui Pinto frisa que a Doyen, que se apresenta como "uma sofrida vítima", está a ser investigada em Portugal e no estrangeiro "por suspeitas de branqueamento". Aliás, uma das suas contas bancárias foi recentemente alvo de uma suspensão temporária de movimentos e operações. O pirata e adepto do F. C. Porto lembra que, em 2015, já circulavam rumores entre os portistas de que poderia haver ligações entre a empresa e Alexandre Pinto da Costa, filho do presidente dos dragões. Rui Pinto conseguiu então ter acesso a um conjunto de contratos que revelavam um "esquema" entre o F. C. Porto e Nélio Lucas, na altura CEO da Doyen, para "financiar a empresa Energy Soccer", de que Alexandre Pinto da Costa detinha 60% do capital, usando "falsos contratos de scouting e falsificação de documentos". Foi na sequência desta investigação que Rui Pinto contactou Nélio Lucas. Seria para o "testar" e não para lhe extorquir dinheiro. E, apesar de este ainda lhe querer pagar, Pinto desistiu porque "era seu dever" divulgar "a verdade", o que "decidiu continuar a fazer".
45 testemunhas
Rui Pinto convocou várias personalidades para testemunharem a seu favor, desde políticos, ativistas anticorrupção, dirigentes desportivos e magistrados, até ao diretor nacional da PJ.
12536932
Culpa diminuída
A defesa diz que todos os alegados alvos do "pirata" tinham relações entre si e que podiam esconder atos de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal. Uma vez que o seu objetivo era procurar provas da prática de crimes, a culpa deve ser diminuída e, como tal, há apenas um crime continuado e nunca os 90 pelos quais vem pronunciado.