Pessegueiro volta atrás e afinal "bifes" também podiam ser código para dinheiro
O empresário Francisco Pessegueiro admitiu, esta sexta-feira, durante o julgamento da Operação Vórtex, em Espinho, que a palavra "bifes" também foi utilizada como código para dinheiro, contrariando o que afirmou ontem na mesma sala de audiência.
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Na sessão desta manhã, o advogado de Pessegueiro fez questão de esclarecer alguns pontos que tinham sido abordados ontem. “Quando Paulo Malafaia lhe pergunta quanto é que quer de bifes, se 50 ou 100 quilos. Está a falar de dinheiro?”, questionou João Medeiros.
“Neste caso estou a falar de dinheiro”, admitiu Pessegueiro, contrariando o que tinha dito, mas frisou que este dinheiro se referia a parte de uma comissão de 350 mil euros devida a Malafaia e não a qualquer suborno.
Porém não conseguiu explicar um ponto: se o dinheiro era devido Malafaia porque é que foi este a perguntar quanto é que Pessegueiro queria, se 50 ou 100 quilogramas de “bifes”, e não o inverso. Segundo o Ministério Público, estes 50 mil euros terão sido entregues por Malafaia a Pessegueiro e, no dia seguinte, este entregou-os a Pinto Moreira.
Fazia “floreados” para dar a ideia que mandava mas era o contrário
Francisco Pessegueiro afirmou ainda que floreava a realidade aos pais, para dar a ideia que era ele que mandava na relação com os autarcas, “quando na realidade era o contrário”.
Segundo o empresário da área do imobiliário, queria dar a entender que estava preparado para ser o homem responsável. “Fazia floreados que não correspondiam à realidade”, para ”obter reconhecimento”, explicou. “Era mais dar a ideia de que não era subjugado mas que controlava, que ninguém me encostava à parede” .
Além disso, tinha de justificar o dinheiro que tirava da empresa, mas foi sempre para aquele efeito. “Jamais seria capaz de roubar os meus pais e a minha irmã”, assegurou. "Não foi bluff para pressionar o Malafaia?", questionou o advogado de Miguel Reis, que naquele momento o inquiria. O empresário negou.
Francisco Pessegueiro explicou ainda que sempre disse que tinha pagado subornos e que, efetivamente, entregou o dinheiro, à exceção de uma vez com Miguel Reis. “Estou arrependido, mas não acho justo que todas as outras pessoas digam que são inocentes. Estamos aqui a brincar?, indignou-se.
Operação Vórtex
Começaram a ser julgados quinta-feira no Tribunal de Espinho os ex-presidentes da Câmara Miguel Reis e Pinto Moreira e os empresários Francisco Pessegueiro, João Rodrigues e Paulo Malafaia. No âmbito da Operação Vórtex, foram ainda acusados mais três arguidos que, na altura dos factos, desempenhavam as funções de chefe de divisão na autarquia e cinco empresas.
Em causa estão crimes relacionados com "projetos imobiliários e respetivo licenciamento, respeitantes a edifícios multifamiliares e unidades hoteleiras, envolvendo interesses urbanísticos de dezenas de milhões de euros, tramitados em benefício de determinados operadores económicos”.
A acusação sustenta que os autarcas e funcionários municipais terão recebido elevadas quantias de dinheiro por parte dos empresários para garantir o favorecimento de empreendimentos imobiliários na cidade de Espinho.