Mais de uma semana depois de a Novares, empresa de Leiria especializada no fabrico de componentes plásticos para a indústria automóvel, ter sido atacada por piratas informáticos, há áreas da produção que continuam paradas.
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A extensão dos prejuízos ainda não foi avaliada, mas será certamente de milhões de euros, tendo em conta que o ciberataque teve projeção mundial, uma vez que a multinacional francesa tem 44 fábricas nos cinco continentes.
"Ainda estamos a atacar os problemas que vão surgindo, pelo que a avaliação dos prejuízos só será feita posteriormente", revela uma fonte da Novares, que assegura que a multinacional estava convencida da eficácia da sua segurança informática. Só que, afinal, revelou-se falível. "Nem se imagina a extensão dos danos", observa. Outra fonte garante que "o prejuízo é incalculável" e que os clientes estão a perder a paciência com o atraso na entrega das peças. Contudo, a empresa recusou pagar o resgate.
A Geocam, por outro lado, empresa de moldes para plásticos localizada na Martingança, Alcobaça, foi vítima de um ataque no dia 18 de janeiro e também rejeitou pagar o resgate exigido pelos criminosos, alegadamente do Leste europeu. Paulo Monteiro, sócio-gerente, diz que quando os trabalhadores chegaram, às seis horas, constataram que os ficheiros de 54 computadores e vários servidores estavam encriptados. O ataque, que já está a ser investigado pela PJ, "foi bastante violento", segundo o gestor."
"ransomware" recente
Uma pesquisa na Internet sobre o vírus - uma recente forma de ransomware designada RYUK - permitiu ao empresário constatar que, "entre agosto e dezembro de 2018, os piratas informáticos tinham extorquido 3,7 mil milhões de dólares a 58 empresas, entre elas um banco da África do Sul, que ficou sem dois milhões de dólares". Preocupado, contactou os técnicos de seis empresas de informática com as quais a Geocam trabalha, os quais só conseguiram suspender o ataque às 12.30 horas.
Paulo Monteiro falou com os autores do crime, por email, através do endereço que constava numa mensagem deixada nos computadores infetados. "Pediram-nos dez bitcoins, o que equivale a 31 475 euros, mas nós dissemos que não pagávamos, porque, a partir do momento em que foram atacados alguns servidores, era impossível recuperar essa informação", justifica.
Embora não consiga precisar o montante do prejuízo, o empresário de Alcobaça acredita que será de "milhares de euros", já que o vírus afetou todas as áreas. Apesar de terem backups de muita informação, perderam sobretudo o histórico. Quanto aos projetos de moldes que estavam a desenvolver, pediram aos clientes que lhes enviassem as últimas versões, para poderem trabalhar a partir delas. Outros foram eliminados pelos criminosos. O JN tentou ouvir a Administração da Novares, mas não obteve resposta dentro do prazo solicitado.
Judiciária regista "dezenas de casos"
O diretor da Unidade de Combate ao Cibercrime da Polícia Judiciária UNC3T, Carlos Cabreiro, disse ao JN que estão a ser investigados "dezenas" de ataques informáticos a empresas portuguesas ou a multinacionais em Portugal, há mais de um ano. Carlos Cabreiro explica que este tipo de cibercrime tem vindo a mudar, tal como a forma como os ataques se concretizam. Constituída em dezembro de 2016, a UNC3Tfoi criada para intensificar a resposta preventiva e repressiva ao fenómeno do cibercrime e do ciberterrorismo.