PSP investiga dezenas de queixas de pessoas enganadas em páginas quase iguais às de marcas do Grupo Inditex. Preços baixos são isco.
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Um grupo, que as autoridades policiais suspeitam ser composto por criminosos estrangeiros, burlou dezenas de consumidores portugueses com recurso a falsos sites das principais marcas do grupo espanhol Inditex. As vítimas eram atraídas às páginas de internet pelos baixos preços de roupa e calçado, efetuavam o pagamento convencidos de que estavam a comprar nas plataformas oficiais das reputadas marcas, mas nunca recebiam os produtos na morada indicada.
Só entre outubro e novembro do ano passado, a PSP registou 36 queixas relacionados com este esquema, mas tudo aponta para que haja um número bem maior de lesados.
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Esta burla confirma a tendência de forte crescimento do cibercrime nos últimos dois anos e para o aumento de casos de burlas ligadas a vendas online, mas também a falsos arrendamentos de casas.
Foi também neste período que os piratas informáticos acentuaram os ciberataques a organizações nacionais de grandes dimensões. Os grupos de comunicação social Impresa e Cofina ou o Parlamento são só as mais recentes vítimas.
PEÇAS IGUAIS E MAIS BARATAS
A burla começava com a criação de sites em tudo idênticos aos das marcas do grupo Inditex e que os burlões apresentavam como sendo as páginas oficiais de etiquetas como a Zara, Pull & Bear, Massimo Dutti, Bershka e Stradivarius. Nestes espaços virtuais, o isco era o preço muito inferior aos praticados nas lojas oficiais das peças de vestuário, sapatos e acessórios e que levava as vítimas a querer aproveitar uma oportunidade de negócio que lhes parecia única.
"Os falsos sites ostentavam fotografias originais de peças de roupa, iguais às dos sites oficiais. As pessoas ficavam convencidas que estavam a comprar na página online da marca", explica a subcomissária Sónia Martins, do Núcleo de Cibercriminalidade da PSP.
A oficial refere que, em seguida, as vítimas efetuavam o pagamento das peças adquiridas, nalguns casos através de transferências bancárias, noutros com os dados de uma entidade e referência indicados pelos burlões, e esperavam que os produtos chegassem às suas casas. Todavia, tal nunca acontecia.
Denúncia
Cifras negras escondem verdadeira dimensão do crime
Quando perceberam que foram burladas, 36 pessoas apresentaram queixa na PSP, mas muitas mais terão sido enganadas. "Este tipo de burlas está a crescer", refere a subcomissária Sónia Martins, sustentada na estatística da PSP. E, de facto, se em 2017 a Polícia registou 3591 queixas sobre burlas informáticas, em 2020 esse número subiu para as 8706. E, no ano passado, a PSP recebeu 9297 denúncias. Estes números, diz a PSP, estão longe de retratar a verdadeira dimensão do fenómeno. "Depois de termos recebido as primeiras queixas relativamente a este caso, fomos investigar e detetámos mais sites do que aqueles que foram denunciados. Há muitas vítimas que não apresentam queixa, o que aumenta, e muito, as cifras negras deste crime", afirma a subcomissária.
Acesso
Localização difícil
A investigação levada a cabo pelo Núcleo de Cibercriminalidade da PSP ainda não originou qualquer detenção. E dificilmente tal acontecerá. "Os burlões serão estrangeiros e usam VPN [Rede Privada Virtual] e outros métodos tecnológicos para mascarar a sua localização", explica Sónia Martins.
Muitos obstáculos
A oficial revela que, mesmo que consigam identificar o servidor nos quais foram alojados os falsos sites, as autoridades policiais vão enfrentar muitas dificuldades para aceder a informação. "As operadoras só cedem os dados com um mandado judicial. E há países onde só o fazem se quiserem", descreve.