A Polícia Judiciária está a realizar buscas, esta quarta-feira, no âmbito de uma investigação que abarca diversas suspeitas relacionadas com negócios de César do Paço, empresário que financiou o Chega. Um dos casos sob investigação é o eventual suborno de um ministro de Cabo Verde, que já foi arquivado neste país.
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A sede, em Cascais, da empresa Summit Nutritionals, de César do Paço, foi um dos alvos das buscas da Unidade Nacional de Combate à Corrupção, da Polícia Judiciária. No inquérito, aberto pelo Ministério Público, estão sob investigação suspeitas de crimes, nomeadamente, de corrupção e branqueamento de capitais.
Um título e um automóvel
Segundo apurou o JN, um dos objetos do inquérito é um alegado caso de corrupção que começou por ser denunciado numa reportagem da SIC ("A Grande ilusão: cifrões e outros demónios") e que levaria à demissão, em janeiro de 2021, de Luís Filipe Tavares do cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades de Cabo Verde e ainda de ministro da Defesa (acumulava ambas as pastas).
Em 2020, o empresário César do Paço - que fez fortuna nos EUA e se tornou conhecido em Portugal sobretudo pela ligação ao Chega de André Ventura, ao qual doou 10 400 euros) - e o seu então assessor José Lourenço, ex-presidente da Distrital do Porto do Chega, terão prometido ao ministro investimentos privados em Cabo Verde, em troca da nomeação daquele como cônsul honorário de Cabo Verde na Florida (EUA), indicou a SIC.
Mas a referida reportagem apresentou indícios de que, após a nomeação do cônsul, o então ministro Luís Filipe Tavares também teria recebido a oferta de um Mercedes comprado a um stand de Cabo Verde por 45 mil euros.
Fatura encaminhada para José Lourenço
Pouco depois de ser validada a nomeação de César do Paço como de Cabo Verde, Luís Filipe Tavares ter-se-á dirigido, no dia 8 de Setembro de 2020, a um stand local para ver modelos da Mercedes. E, segundo noticiou “Expresso das Ilhas”, que teve acesso ao despacho de arquivamento do inquérito criminal em Cabo Verde, “onze dias depois da visita à concessionária, o arguido recebe da Freexauto, via correio eletrónico datado de 11/09/2020, às 11:25, a fatura proforma de um Mercedes Benz CLA 180 Coupé Full Options”.
Nesse mesmo dia, o arguido reencaminha aquela mensagem a José Lourenço, com quem se encontrara em março e no final de 2020. Mais tarde, Tavares alegaria que foi uma das mensagens que perdeu na sequência de um ciberataque à rede informática do Estado.
Segundo o MP de Cabo Verde, o envio da fatura do Mercedes Benz a José Lourenço não indicia suficientemente um crime. A explicação do arguido foi tão plausível quanto a suspeição lançada sobre si, concluiu o MP, invocando, a favor do suspeito, elementos que indicam que este contraiu dois empréstimos, junto de um banco e da irmã, para comprar o Mercedes.
Carro comprado em portugal?
O facto de o caso do Mercedes estar agora a ser investigado em Portugal significa que, no âmbito do presente inquérito sobre os negócios de César do Paço, terão sido assinalados factos com possível relevância criminal e praticados no país. Segundo apurou o JN, suspeita-se, designadamente, que o negócio do referido Mercedes não tenha sido feito, afinal, em Cabo Verde, mas em território português, onde empresa que fez a venda também tem representação.
Em janeiro de 202, Luis Filipe Tavares demitiu-se do Governo. No comunicado em que então o anunciou, justificou-se com a controvérsia da nomeação de César do Paço como cônsul, mas sem fazer referência a história do Mercedes.