Foi com "surpresa" que Isabel recebeu, na tarde de sexta-feira, um telefonema da Polícia Judiciária (PJ) do Porto, a solicitar-lhe que compareça, esta segunda-feira, nas respetivas instalações, a fim de ser inquirida no âmbito da investigação ao incêndio que lhe destruiu a casa, no centro da Invicta, a 11 de março de 2021. Ou seja, quase dois anos após o fogo.
Corpo do artigo
"Não me parece razoável notificar alguém por telefone, com 48 horas de antecedência, para comparecer na PJ para prestar declarações", estranha o advogado da proprietária do imóvel, situado no Largo da Lapa, acrescentando: "O que me parece é que o processo esteve parado até a situação ser espoletada por uma reportagem na televisão, na quinta-feira.
"Até ao momento, a proprietária do imóvel nunca tinha sido chamada para prestar declarações, quando o sinistro já ocorreu há 20 meses", critica também Hernâni Gomes, aludindo à denúncia feita na RTP pela conhecida enfermeira Carmen Garcia, que tem apoiado a família do Porto e divulgado a campanha solidária que decorre com o objetivo de ajudar a reconstruir a casa (mais informações na página de Facebook "Como conheci a Adelina", através da qual é possível ajudar).
O advogado de Isabel refere ainda que "a providência cautelar de arresto [do imóvel, peticionada por vizinhos do prédio] está parada, e que as diligências efetuadas pela advogada anterior não tiveram respostas". Hernâni Gomes afirma que, "sendo uma providência cautelar um processo urgente, houve urgência em decretar o arresto, mas, depois disso, e exercido o contraditório, o tribunal nada mais ordenou até hoje, nomeadamente prova contrária requerida pela arrestada".
O JN tentou obter esclarecimentos da Polícia Judiciária, mas não obteve resposta em tempo útil.
Alojamento local na vizinhança
O incêndio deflagrou com a casa sem instalação elétrica e livre de pessoas, o que leva a família de Isabel a suspeitar de fogo posto. Nessa altura, decorria uma angariação de verbas para ajudar a família a reabilitar o imóvel, para que a avó de Isabel, a antiga enfermeira Adelina Águia, de 80 anos, pudesse voltar a habitá-la. O fogo queimou essa esperança, e a família passou a ser ainda mais assediada para "vender a casa".
Este ano, os vizinhos, que detêm alojamentos locais, arrestaram o prédio. Reclamam uma dívida de 23 mil euros, por danos e prejuízos, uma verba cinco vezes inferior ao valor patrimonial do imóvel de Isabel, que é de 112 mil euros. O tribunal decretou o arresto sem ouvir a proprietária.