Um preso da cadeia do Linhó engoliu lâminas de barbear pela quinta vez no espaço de um mês, denunciou a Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso (APAR), apontando o caso como uma consequência indireta das privações sofridas pelos reclusos devido à greve de guardas prisionais ali iniciada há nove meses.
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Sem confirmar nem desmentir que foi a quinta vez num mês, a Direção-Geral de Reinserção e Serviços prisionais confirmou que "um recluso do Estabelecimento prisional do Linhó engoliu corpos estranhos, tendo sido deslocado a hospital do SNS, de onde voltou após ser assistido".
A APAR diz que o recluso tem engolido lâminas de barbear e pilhas e que, "por ser doente, devia estar internado". Questionada pelo JN, a DGRSP responde que o internamento de um recluso num hospital "resulta de uma decisão clínica". "E no caso em equação os médicos que assistiram o recluso deram-lhe alta", afirmou o gabinete de comunicação do diretor-geral dos serviços prisionais, Orlando Carvalho.
A APAR diz que os nove meses de greve dos guardas do Linhó têm causado "problemas gravíssimos aos reclusos". "Não têm roupa lavada (nem lençóis, fronhas, toalhas ou de vestir), porque a lavandaria não funciona e não deixam entrar roupa pelas visitas", exemplifica.
A DGRSP responde que, "na sequência dos grevistas não permitirem a entrada de sacos com roupa para os reclusos, o estabelecimento prisional disponibilizou tanques para que a roupa individual possa ser lavada pelos próprios". "E já foram adquiridas máquinas de lavar que serão instaladas muito em breve", acrescenta.
Por causa da greve, denuncia também a APAR, os reclusos do Linhó têm estado fechados nas celas 22 por dia. Este regime, com apenas duas horas de pátio, costuma ser aplicado em casos de indisciplina ou na cadeia de alta segurança de Monsanto.
Embora questionada diretamente pelo JN sobre aquela denúncia, a DGRSP não respondeu. "A greve do corpo da guarda prisional causa, como qualquer greve em qualquer sector, constrangimentos e limitações que, no caso incidem sobre as tarefas diárias e aos quotidianos dos reclusos, tanto mais que a greve está a ser mensalmente alongada no tempo", limitou-se a dizer, antes de, a seguir, voltar a reconhecer "a civilidade e compreensão com que reclusos e familiares têm lidado com os constrangimentos decorrentes desta greve".