Três membros da Guarda Prisional foram acusados de tráfico e corrupção. Depoimentos com imagem distorcida para proteger testemunhas.
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Um recluso lucrou quase 132 mil euros, durante cinco anos, com a venda de drogas e telemóveis, introduzidos na cadeia de Paços de Ferreira por três guardas prisionais. O preso, Fábio Faria, e os elementos da Guarda Prisional, Manuel Borges, Rogério Machado e Delfim Dispenza, assim como outros 11 reclusos e seus familiares, foram, agora, acusados de tráfico de estupefacientes, corrupção e branqueamento de capitais. Num outro processo, foram acusados dos mesmos crimes mais 20 presos e José Manuel Coelho, chefe dos guardas prisionais.
Todos enfrentarão julgamentos nos quais os presos que colaboraram com a investigação testemunharão através de teleconferência com a imagem e voz distorcida. Uma forma de evitar que, tal como aconteceu na fase de inquérito, voltem a ser ameaçados. O mesmo acontecerá com os diretores, comissários e guardas da cadeia de Paços de Ferreira que passarem pelo banco das testemunhas.
Segundo o Ministério Público (MP), o chefe Manuel Borges e os guardas Rogério Machado e Delfim Dispenza passaram os anos em que trabalharam em Paços de Ferreira a levar droga, telemóveis, cartões SIM e de memória aos reclusos. Faziam-no a troco de elevadas percentagens nas vendas destes e de outros produtos proibidos dentro do espaço prisional.
O esquema começava com os familiares dos reclusos a entregarem cocaína, heroína, canábis e aparelhos eletrónicos aos guardas. Os encontros aconteciam sempre no exterior da prisão e, no caso de Rogério Machado, as encomendas eram entregues junto à sua habitação, no Bairro dos Guardas Prisionais, nas imediações da cadeia.
Na posse dos embrulhos, os elementos da Guarda Prisional entravam no estabelecimento prisional e, sem levantar suspeitas, deixavam-nos em locais combinados com os traficantes e que escapavam às câmaras de vigilância. Manuel Borges chegou a deixar uma mochila com droga e telemóveis no pátio e a colocar no caixote do lixo da cozinha um saco de plástico com quatro placas de canábis e três telemóveis. Já Rogério Machado está acusado de colocar no parapeito do balneário de uma das alas sacos com droga e telemóveis e de esconder dois aparelhos e uma barra de canábis num pacote de sumo deixado na casa de banho. Delfim Dispenza entregava, segundo a acusação, a droga que transportava nos bolsos da farda diretamente aos presos.
Transferências pagam droga
A droga era, depois, vendida pelos reclusos aos homens com quem partilhavam as celas. Para proceder ao pagamento do produto consumido, os toxicodependentes ordenavam aos familiares que transferissem para contas controladas pelas esposas ou irmãos dos traficantes o valor em dívida.
A investigação apurou que quatro contas bancárias controladas por Elisabete Ferreira, mulher de Fábio Faria, receberam, entre 2014 e 2019, 131 903 euros em depósitos e transferências. Uma outra conta em nome de Diogo Silva, irmão do preso Fábio Silva, foi recheada com mais de 55 mil euros no mesmo período.