Associações que representam estes profissionais esperam grande adesão à manifestação em frente à residência oficial por mais "justiça salarial".
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Um simbólico caixote vazio e um documento reivindicativo assinado por cinco estruturas associativas das Forças Armadas (FA) e das forças de segurança vão ser entregues, hoje à tarde, em São Bento, durante a ação de protesto que espelha o "mal-estar que grassa entre os militares". A concentração dos profissionais, em que é esperada uma "adesão significativa", está marcada para as 15 horas, à porta da residência oficial do primeiro-ministro, António Costa, e tem como alvo único a luta pela "justiça salarial", transversal às três categorias das FA - oficiais, sargentos e praças - e às polícias.
"O que está em causa é o que nos foi comunicado na reunião do [passado] dia 8, no Ministério da Defesa, sobre as remunerações. Foi-nos lido o que iríamos receber a partir de janeiro de 2023, sendo-nos dito que era o que tinha sido acordado na concertação social, onde nem sequer estamos representados", recorda o presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), tenente-coronel António Mota, vincando que "não houve negociação com os militares".
"2% é gozar com as pessoas"
"A ministra veio dizer que há militares que vão ser aumentados 11%, quando o que acontece é que os postos mais baixos [da hierarquia] recebem o ordenado mínimo e vão passar a receber, por via do aumento deste, cerca de 10% a mais", contextualiza o oficial, lembrando que a subida salarial se fica pelos aumentos anunciados para toda a Função Pública. "Aumentar 2% é gozar com as pessoas, quando a inflação está nos 10%. Por isso, vamos entregar ao primeiro-ministro um caixote vazio, que é o que ele vai dar-nos", compara António Mota. E alerta: "São as Forças Armadas e as Forças de Segurança que estão na rua, e isso é uma coisa raríssima".
"Há quase 13 anos que não há revisão da tabela remuneratória e, com as condições atuais e agravamento da inflação, não nos parece justa nem equilibrada a solução apresentada, que não foi negociada e foi decidida por outros, sem ter em conta as especificidades e exigências completamente diferentes que são colocadas à condição militar", sublinha o sargento-mor António Lima Coelho, da Associação Nacional de Sargentos (ANS), adiantando que o protesto "é uma das muitas iniciativas que se vão seguir para demonstrar o mal-estar dos militares".
O cabo-mor Paulo Amaral, que preside à Associação de Praças (AP), realça ainda a necessidade de "haver um incremento nos níveis remuneratórios, ou qualquer dia está toda a gente a ganhar o salário mínimo nacional [na categoria de praças]. Caminhamos a passos largos para isso". Isto porque, sustenta o militar, "há cada vez mais uma diferença menor entre quem entra nas Forças Armadas e quem cá está há cinco ou seis anos", já que a subida gradual do ordenado mínimo não é acompanhada pela atualização dos restantes níveis salariais.
As associações de profissionais da GNR e da PSP, tutelados pelo Ministério da Administração Interna, também aderiram ao protesto contra os "parcos aumentos salariais apresentados".
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Querem ser ouvidos
Reclamam o direito a serem ouvidos, através das associações socioprofissionais, como está disposto na Lei Orgânica n.o 3/2001, que determina que as associações gozam, entre outros, "do direito de integrar conselhos consultivos, comissões de estudo e grupos de trabalho constituídos para proceder à análise de assuntos de relevante interesse para a instituição", lembra a ANS.
Protesto em 2014
São raras as manifestações de militares das Forças Armadas. À exceção de vigílias que entretanto ocorreram, saíram à rua em protesto há oito anos, contra cortes de rendimentos e pensões, quando o país vivia sob o resgate da troika.
Polícias aderem à luta
A Comissão Coordenadora Permanente dos Sindicatos e Associações dos Profissionais das Forças e Serviços de Segurança participa para "exigir a dignificação das carreiras e aumentos salariais capazes de fazer face ao aumento da inflação e do custo dos bens e serviços essenciais".saídas
Saídas
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Número de militares que as Forças Armadas perderam só no 3.º trimestre deste ano, segundo dados divulgados pela AOFA.p>>Salários baixos
Para a Associação de Oficiais, a questão salarial está relacionada com a perda de efetivos, o que se deve a baixos vencimentos sobretudo nos preças.