A mulher colocada em prisão preventiva por ter tentado raptar uma recém-nascida no Hospital de S. João, no Porto, perdeu um bebé na sequência de uma gravidez de risco há apenas três meses.
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Ao seu namorado, de quem entretanto se separou, garantiu na altura que ia conseguir ter outro bebé. Por isso, as autoridades acreditam que Laura Argentina, de 48 anos, começou a pensar no rapto em novembro.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, foi o ex-namorado de Laura quem informou as autoridades da gravidez da mulher, involuntariamente interrompida há cerca de três meses. A ex-secretária desempregada estaria muito feliz por voltar a ser mãe (já tem dois filhos e netos) aos 48 anos e terá caído numa depressão com a perda da criança.
Ao que tudo indica, foi nessa altura que decidiu tentar obter um bebé, de "qualquer forma". Acabaria por arranjar uma bata e um estetoscópio para poder entrar numa qualquer maternidade. Estes elementos de prova levaram as autoridades a acreditar que os crimes de entrada num lugar vedado ao público, como é o serviço de obstetrícia do Hospital de S. João, e o de usurpação de funções, por se ter feito passar por médica, tinham sido premeditados. Estes dois crimes, pelo quais foi inicialmente detida, tornaram-se numa indiciação por tentativa de sequestro qualificado, levando a que fosse colocada em prisão preventiva pelo Tribunal de Instrução Criminal do Porto.
Para a manter presa, o juiz invocou, essencialmente, o alarme social criado, tendo em conta que as mães dos recém-nascidos estão profundamente indefesas por terem acabado de dar à luz, podendo apenas confiar na segurança dos hospitais para não estarem sujeitas a ameaças.
Aproveitou entrada de um pai
A investigação do caso, que esteve a cargo da PSP mas deve agora ser entregue à Polícia Judiciária do Porto, por causa do tipo de crime, acredita que Laura poderá ter feito alguns reconhecimentos no S. João, para perceber de que modo poderia conseguir aproveitar eventuais fragilidades de segurança.
No passado sábado, a mulher, de bata vestida e estetoscópio à volta do pescoço, aproveitou o momento em que um pai entrava no serviço de obstetrícia - só acessível, do exterior, a pessoal autorizado ou por abertura do interior - para também o fazer. Foi à sala onde estava a bebé e pediu à avó da criança para pegar na recém-nascida ao colo. Pensado tratar-se de uma médica, a familiar entregou-lha mas, passados alguns minutos, chegaram o pai e a tia da bebé, levando a mulher a desistir.
O pai suspeitou logo de Laura, que tinha um piercing no nariz e exuberantes unhas de gel. Questionou os familiares para saber quem era, mas estes responderam que era a primeira vez que a viam.
Entretanto, já no corredor, Laura estava a tirar a bata azul descartável. O pai foi atrás dela e pediu que se identificasse. Perante a recusa, alertou a segurança do hospital. A mulher acabou por ser levada para a esquadra da PSP e detida.
PORMENORES
Silêncio
A mulher, Laura Argentina Marques Silva, de 48 anos, uma secretária no desemprego, residente em Oliveira do Douro, Vila Nova de Gaia, optou pelo silêncio perante o juiz de instrução do Porto.
Prisão domiciliária
A medida de coação de prisão preventiva poderá ser atenuada mediante a conclusão de um relatório social, sendo então a mulher colocada em obrigação de permanência na habitação com fiscalização através de pulseira eletrónica.
Socorrista
Laura disse ter sido socorrista na Cruz Vermelha, onde conseguiu a bata e o estetoscópio.
Hospital abriu inquérito interno e garante segurança
O Hospital de S. João abriu um inquérito interno "para esclarecimento completo da ocorrência". As conclusões serão, de acordo com fonte oficial da unidade de saúde, tornadas públicas. Num comunicado emitido na sequência do caso, os responsáveis do hospital afirmam que "o serviço de obstetrícia está dotado das necessárias medidas de segurança, nomeadamente o controlo de entradas e saídas", salientando ainda que o sistema de pulseiras eletrónicas colocadas nos recém-nascidos está a funcionar.