Dupla, a cumprir pena de prisão em Vale de Judeus, usava "app" para criar referências multibanco que tornavam o esquema credível. Há 30 vítimas identificadas em todo o país. Suspeitos terão lucrado milhares de euros.
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Dois reclusos a cumprir pena no Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre (Azambuja), são suspeitos de, durante meses, terem burlado a partir da cadeia 30 comerciantes de norte a sul do país, a maioria no Algarve.
Os homens, de 34 e 42 anos e agora constituídos arguidos pela GNR, ter-se-ão feito passar, por telefone, por inspetores da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) e da Autoridade para as Condições no Trabalho (ACT) para exigir o pagamento de coimas inexistentes, lucrando mais de 27 mil euros.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, os suspeitos assegurariam aos empresários que as autoridades tinham identificado nos seus estabelecimentos diversas irregularidades, como a ausência de seguro, a existência de funcionários não registados ou a insuficiência de extintores no espaço. Em seguida, alegariam que o melhor seria os comerciantes pagarem a coima em causa, de modo a evitarem uma futura inspeção.
Para tornar o esquema credível, a dupla forneceria então referências multibanco, criadas com recurso a uma aplicação de telemóvel. Ao efetuarem o pagamento, os comerciantes acabariam, sem saber, por transferir os montantes da suposta coima para contas bancárias controladas pelos suspeitos.
Lista com nome dos lesados na cela
As primeiras queixas surgiram há quatro meses no Algarve e, por isso, a investigação titulada pelo Ministério Público de Faro, foi entregue ao Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Faro. Só com um inquérito já numa fase avançada é que os militares perceberam que os alegados burlões estão presos na cadeia de Vale de Judeus. Na última sexta-feira, 3 de junho de 2022, foram ambos constituídos arguidos e as suas celas alvo de buscas.
Na operação, divulgada esta segunda-feira por aquela força de segurança, foram apreendidos "um telemóvel, dois cartões SIM e diversos apontamentos relacionados com as burlas praticadas pelos suspeitos, nomeadamente registos de nomes, valores e dados bancários dos lesados".
"A ação contou com a colaboração da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, tendo sido presidida por dois procuradores do Departamento de Investigação e Ação Penal de Faro. Os factos foram comunicados ao Tribunal Judicial de Faro", conclui a GNR.
RECOMENDAÇÔES
Desconfie de ameaças
A GNR alerta que nenhuma entidade de fiscalização oficial, como a ASAE ou a ACT, contactam os comerciantes sob "ameaça de fiscalização" ou algo semelhante. Se receber um telefonema nesse sentido, o melhor é exigir a identificação do funcionário, o seu local de trabalho e uma notificação pessoal. Pode igualmente confirmar o contacto com a entidade em causa.
Opte pela prudência
Se for contactado por telefone ou presencialmente por desconhecidos, "seja prudente", "adote uma postura de desinteresse e saiba dizer 'não'". "Lembre-se que os burlões sabem que as pessoas cometem erros sob pressão", recorda a GNR, apelando a que nenhum negócio seja decidido "sem um tempo de reflexão".
Não partilhe dados
Nunca partilhe os seus dados pessoais ou bancários com pessoas que não conhece, nem assine documentos "sem ter a certeza do seu conteúdo". Caso o contacto inclua a referência à necessidade de um pagamento, opte por meios "com os quais esteja verdadeiramente familiarizado", de modo a não ser enganado sem se aperceber.
Denuncie sempre
Caso desconfie de algo e mesmo que não caia numa aparente burla, denuncie a situação às autoridades, seja, consoante a área de residência, a GNR ou a PSP. Só assim estas poderão ter conhecimento do caso e investigar, prevenindo burlas futuras ou permitindo a eventual recuperação do dinheiro perdido.