Uma complexa organização criminosa brasileira usava Portugal para introduzir grandes quantidades de cocaína na Europa. Só numa ocasião, a rede enviou, a partir do Brasil, 320 quilos de droga escondidos num contentor de açaí congelado que, no final de junho do ano passado, foram apreendidos no porto de Sines.
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A estrutura criminosa foi, agora, desmantelada, na sequência de uma investigação liderada pelos espanhóis da Guarda Civil, mas que envolveu a Polícia Judiciária, a Polícia brasileira e a Europol.
A operação “Terminus” iniciou-se em junho do ano passado, quando a Guarda Civil identificou um brasileiro, escondido em Málaga, suspeito de ter sido o mandante do assassinato de um advogado. A vítima foi baleada numa rua de São Paulo, em 2019.
As diligências que se seguiram permitiram descobrir que este fugitivo era elemento de destaque de uma rede que estava a enviar grandes quantidades de cocaína do Brasil para a Europa, usando Portugal e Espanha como principais portas de entrada. Após chegar ao continente europeu, o produto estupefaciente era escondido em Málaga e, a partir desta localidade espanhola, enviada, em carros com fundos falsos, para o País Basco e para a Cantábria, também em território espanhol. Depois, a droga seguia para vários países europeus.
Polícia e militar brasileiro detidos
A rede, sabe-se agora, tinha uma estrutura complexa, estava divida por células independentes e cada um dos seus elementos tinha uma função criminosa específica e perfeitamente definida. Contava com, pelo menos dois membros da Polícia e Exército do Brasil. Ambos foram vistos, em Málaga, a combinar o envio para Portugal de mais um carregamento de cocaína e o polícia seria detido, em outubro do ano passado, numa operação que levou 250 agentes a realizar 22 buscas em Belém, no Brasil.
Nesta altura, o militar continuava em Málaga e planeava comprar um barco para continuar com os carregamentos de droga. Só foi detido quando tentou regressar ao Brasil para fugir à investigação em curso.
Roubaram droga a rivais
A informação recolhida pela Guarda Civil, Polícia Judiciária e Polícia brasileira foi sendo partilhada e a cooperação revelou-se fundamental para apreender grandes quantidades de cocaína. Além dos 320 quilos encontrados no porto de Sines, em setembro do ano passado foram apanhados 485 quilos que seriam enviados do Brasil para Espanha.
A Guarda Civil também apreendeu 60 quilos de haxixe, escondidos num carro que estava a ser usado por dois membros da organização. Esta droga era parte dos 450 quilos que a rede roubou, com recurso a armas de fogo, e a outra organização criminosa, no final de setembro último.
Apreendidos drones, GPS e telefones por satélite
Já em maio deste ano, foi realizada a segunda e última fase operacional da operação “Terminus”. Mais de 300 agentes realizaram 24 buscas simultâneas nas províncias espanholas de Málaga, Córdoba, Madrid, Biscaia e Cantábria e igualmente em Lisboa. No final, 17 pessoas foram detidas.
Ao longo do último ano, a cooperação policial internacional concretizada no âmbito desta investigação permitiu a detenção de 24 pessoas em Espanha, Brasil e Portugal e a apreensão de 803 quilos de cocaína, 1,7 quilos de metanfetaminas e 60 quilos de haxixe. Mais de 116 euros em dinheiro, várias carteiras físicas de criptomoedas, cinco armas de fogo semiautomáticas e 233 cartuchos de vários calibres foram igualmente encontrados.
As diferentes polícias apreenderam ainda documentação falsificada, um drone de última geração, balanças de precisão, máquinas de embalamento a vácuo, inibidores de frequência, geolocalizadores GPS, telefones por satélite, matrículas de países europeus e relógios de luxo.
Empresas fictícias para pedir dinheiro
Além disso, foram apreendidos em Espanha sete imóveis e 12 veículos topo de gama no valor de 2,5 milhões de euros, bem como 48 produtos bancários. Estes e outros lucros obtidos pela rede com o tráfico de droga eram branqueados por uma estrutura financeira liderada por um especialista na criação de empresas de fachada, através de testas-de-ferro. Estas empresas eram utilizadas ainda para obter linhas de crédito milionárias junto de bancos, que serviam para financiar as operações de tráfico de droga.
Esta estrutura financeira também foi desmantelada.