Grupo vendia senhas de acesso com crédito de jogo para que os clientes tentassem a sorte em quiosques de acesso a Internet de cafés ou tablets.
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A gigantesca rede internacional de jogo ilegal desmantelada pela GNR tinha mais de cinco mil locais de apostas espalhados pelo território nacional, mas também em vários países europeus e africanos. O grupo, alegadamente liderado por um empresário de Vila Nova de Gaia, auxiliado por um advogado da mesma cidade, terá movimentado cerca de 1,5 milhão de euros por semana. Ontem à noite, à hora do fecho desta edição, as medidas de coação decretadas pelo Tribunal de Setúbal para os arguidos ainda não tinham sido divulgadas, embora o Ministério Público não tenha proposto qualquer prisão preventiva.
A operação "Shadowgame", que levou a detenção de 20 pessoas, uma delas no Luxemburgo, visou um esquema multimilionário que envolvida a colaboração de cerca de 100 pessoas. Eram intermediários que angariavam em cafés, restaurantes ou mesmo associações, onde eram vendidas senhas que permitiam acesso a sites na Internet para fazer apostas desportivas, mas também tentar a sorte em jogos de casino online. Alguns dos estabelecimentos eram equipados com quiosques de acesso à Net. Noutros locais, a rede disponibilizava tablets de acesso restrito apenas aos clientes conhecidos e que eram escondidos em caso de fiscalizações.
Senhas de 10 a 50 euros
De acordo com a investigação, os clientes dos cafés podiam comprar senhas valendo entre 10 e 50 euros. Se as apostas fossem lucrativas, o cliente recebia o dinheiro no próprio estabelecimento. Uma parte dos lucros do jogo ilegal era destinada aos donos dos cafés, mas o resto era encaminhado, num esquema piramidal, para o núcleo português, em Vila Nova de Gaia.
As autoridades apontam o empresário Henrique Veloso, sobejamente conhecido no ramo das máquinas de diversão a nível nacional, como o líder da organização.
Na mesma operação, foi detido o advogado José Figueiredo, também de Gaia, por suspeitas de auxiliar juridicamente o empresário a despistar as autoridades e ocultar o jogo ilícito. Sempre que um cliente da rede tinha problemas com as autoridades, Figueiredo daria instruções aos donos dos cafés para manter o silêncio, tanto com as polícias como em tribunal. O objetivo seria proteger o líder e os indivíduos no topo da pirâmide da rede, que só no último ano, é suspeita de ter movimentado cerca de 80 milhões de euros. Os servidores informáticos que davam acesso aos sites de apostas estavam no Luxemburgo e já foram encerrados pelas autoridades, com a intervenção da Europol e do Eurojust.
Caso: Três trabalhadores detidos por engano libertados
Três dos detidos nada tinham a ver com o caso e apenas faziam trabalhos de carpintaria numa empresa alvo de buscas, em Santo Ovídio, Gaia. Foram libertados pelo tribunal por não serem suspeitos de qualquer crime. Segundo apurou o JN, o advogado José Figueiredo negou ter praticado qualquer crime, considerando estar envolvido por ser especialista em processos por jogo ilícito. Aníbal Pinto, advogado de vários arguidos, mostrou-se escandalizado com as detenções. "Não havia indícios de que nenhum comparecesse em tribunal de livre vontade", alegou.