Relação entendeu que necessidade da arguida em explicar como retirou e voltou a colocar arma na casa de António Joaquim revela cumplicidade.
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Os juízes do Tribunal da Relação de Lisboa que reverteram a absolvição do amante de Rosa Grilo para uma condenação a 25 anos de cadeia entenderam que foi o próprio depoimento da arguida, no Tribunal de Loures, a fornecer elementos para os convencer da participação de António Joaquim no homicídio de Luís Grilo e de que foi ele quem disparou. Rosa reconheceu ter manuseado a arma do crime, pertencente a António Joaquim.
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Segundo o acórdão a que o JN teve acesso, "Rosa Grilo, apesar de algumas deambulações e hesitações na procura de uma versão que tivesse alguma credibilidade e não comprometesse António Joaquim, acabou por fornecer outro dado muito relevante que também não pode deixar de corresponder à verdade: a arma utilizada para matar o Luís Grilo foi a arma indicada na acusação", argumentam os juízes, para quem a arma que foi identificada como "instrumento do crime" era "propriedade daquele arguido [António Joaquim] e foi encontrada na residência deste".
No raciocínio dos desembargadores "se assim não fosse, não haveria qualquer justificação para aquela arguida sentir necessidade de "explicar" como a aludida arma saiu de casa do arguido António Joaquim sem o seu conhecimento, serviu para matar o Luís Grilo e voltou a ser colocada no local original".
Sem contraindícios
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Os juízes asseguram que não viram quaisquer contraindícios que permitam admitir que a arma saiu e voltou à casa do arguido sem a sua intervenção. Citam o perito em balística, que testemunhou no Tribunal de Loures, para afirmar que o interior do cano da pistola tinha sido danificado, "química e mecanicamente", ao que tudo indica para impedir que se provasse ter sido com a arma de António Joaquim que Luís Grilo foi baleado. Para os desembargadores, só António Joaquim tinha os conhecimentos de balística, de manuseamento de armas e do processo de eliminação de vestígios para isso. Rosa não percebia nada de armas.
Para a Relação, a mulher também não tinha capacidade física para carregar, sozinha, o corpo do marido para dentro do carro e levá-lo para a zona de Benavila, em Avis, onde, um mês antes do homicídio, a arguida e o amante tinham estado juntos. O facto de ambos terem desligado os telefones na tarde do assassinato também convenceu os juízes de que "a execução dos crimes de homicídio e de profanação de cadáver, apenas pela arguida, nos moldes em que ocorreram, com aquela arma e com a munição utilizada, era quanto a nós impossível sem a colaboração efetiva e imprescindível de António Joaquim".
Suspenso de funções
António Joaquim foi ontem suspenso de funções pela vice-presidente do Conselho dos Oficiais de Justiça, na sequência da condenação do funcionário público pelo Tribunal da Relação.
ADN na arma
Foi apurado o perfil genético de Luís Grilo em vestígios recolhidos da arma de marca CZ, propriedade de António Joaquim e que foi apreendida em casa dele, aquando da sua detenção.
Angolanos
Rosa Grilo, que garante inocência, diz que o marido foi morto em casa por angolanos com quem Luís Grilo tinha negócios ilícitos de diamantes. E que não os denunciou por medo de represálias.