Na impossibilidade de o presidente liderar o clube, sobe o vice-presidente. Oposição está revoltada com a atual situação e exige a convocação de eleições antecipadas.
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Rui Costa, vice-presidente do Benfica, vai assumir temporariamente a liderança do clube, enquanto Luís Filipe Vieira estiver a braços com a Justiça. Segundo os Estatutos, cabe ao presidente escolher o responsável na sua ausência e, ao que apurou o JN, o antigo jogador é a escolha natural. É um elemento próximo e há muito que é apontado como o seu sucessor.
A notícia da detenção de Vieira caiu que nem uma bomba no universo benfiquista e fez renascer as críticas à Direção. Tanto a oposição como personalidades neutras fizeram-se ontem ouvir de forma muito dura. São pedidas eleições antecipadas e garantem que o atual clima prejudica o bom nome do clube. Entretanto, foi convocada uma manifestação contra Vieira para o fim da tarde de ontem, mas acabou por não ter praticamente adeptos. Pouco antes, a SAD reuniu-se de emergência para debater o atual momento.
Ao JN, Ribeiro e Castro, vice-presidente do Benfica na década de 1990, referiu que "o plenário dos órgãos sociais deve reunir e apreciar a situação, que é muito séria". "O interesse do Benfica reclama eleições antecipadas. É isso que os órgãos sociais devem fazer, publicando uma data num curto período de tempo para aparecerem candidaturas", salientou.
O caminho é a rotura
"É preciso abrir um caminho novo e é também importante que o Benfica siga o seu rumo sem estar pendurado neste processo e seja interrogado por ele. A administração da SAD e os órgãos do clube devem efetuar a gestão neste período, mas isto não se pode arrastar. Seria mau para o Benfica e mau para Vieira se as coisas continuassem misturadas".
Bruno Costa Carvalho, ex-candidato à liderança dos encarnados, sublinhou que Filipe Vieira tem de efetuar a sua defesa "bem longe do Benfica". "Alguém imagina que o presidente da EDP ou da Galp continuasse a ser presidente dessas instituições se fosse detido? É preciso recordar que a Benfica SAD é uma empresa cotada. Mas, mesmo que não fosse, é moralmente inaceitável a continuidade de um presidente de uma instituição nestas condições. Deverá apresentar, de imediato, a demissão do Benfica".
Por seu lado, António Simões, antiga glória do Benfica, referiu que a detenção de Vieira não o surpreendeu. "Andei muitos anos no futebol e conheço muita gente e isto prejudica gravemente o Benfica. Mesmo que não aconteça nada ao presidente, há situações preocupantes, como esta, que não trazem boa imagem. Isto tira credibilidade, não são só os títulos, é também quem manda. Luís Filipe Vieira e quem votou nele têm de fazer uma reflexão. Oxalá a verdade venha ao de cima, estou muito triste e magoado".
O ex-presidente Manuel Damásio reconheceu que o clube atravessa um momento exigente e pediu tempo. "Está tudo numa fase muito inicial e ainda não deu para perceber muito bem o que se passa. Vamos aguardar serenamente, porque tudo isto é muito confuso. Tudo o que está a ser dito tem de ser provado. Atualmente, acusam-se pessoas, tiram-se ilações e depois não é assim. Vamos ter calma e ouvir o que a justiça tem a dizer".
Por seu lado, Rui Pereira, que se demitiu recentemente da presidência da Assembleia-Geral, comentou com tristeza o atual momento. "Nunca senti que Vieira se aproveitava do Benfica; se for provado, será uma grande deceção". O dirigente recordou Vale e Azevedo. "O clube já teve uma situação traumática e o que está em causa é um líder com obra feita".
Perguntas e respostas
Em que condições o mandato de um presidente do Benfica pode cessar antes do período estipulado?
Segundo o artigo 43 dos Estatutos do clube, pode suceder por morte, impossibilidade física, perda da qualidade de sócio, violação de prazos, incompatibilidade, renúncia ou destituição. A questão legal não é nomeada.
O que está previsto quando o presidente não pode, temporariamente, exercer funções?
De acordo com o artigo 61, sem prejuízo das suas competências, deve designar o nome do vice-presidente que o substitua nas suas ausências e impedimentos; atribuir pelouros aos vice-presidentes; e delegar competências estatutariamente permitidas.
Nos estatutos da SAD, está prevista alguma medida especial quando o presidente está ausente?
Nenhuma. O presidente pode votar por correspondência ou fazer-se representar em deliberações do Conselho de Administração. O seu voto de qualidade mantém-se, independentemente de estar presente.