PJ e PSP prepararam logística para segurança do alegado pirata informático. Mesmo na cadeia, autoridades vão monitorizar ameaças.
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Mal chegou a Portugal, depois de ter sido entregue à Polícia Judiciária (PJ) pelas autoridades húngaras, Rui Pinto, que garantiu ser alvo de ameaças de morte e ter medo de regressar ao nosso país, teve oportunidade de uma reunião com a PSP para tratar de um programa de proteção pessoal. Mas recusou.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, Rui Pinto terá negado a proposta de reunião com a PSP, alegando pretender esperar pela decisão da juíza de instrução criminal - que acabaria por decretar a sua prisão preventiva.
Contactada pelo JN, fonte da defesa de Rui Pinto, a cargo do advogado Francisco Teixeira da Mota, não confirmou que o arguido tenha recusado qualquer programa de proteção pessoal.
Segundo apurámos, nas reuniões preparatórias para tratar da segurança de Rui Pinto no aeroporto de Lisboa, tanto a PJ como a PSP, por intermédio do denominado Corpo de Segurança Pessoal, trocaram informações sobre a logística que exigiria rodear Rui Pinto de proteção pessoal.
Em face das afirmações de Rui Pinto na Hungria - onde declarou que corria riscos de vida em Portugal e que era alvo de sérias ameaças -, a recusa por parte do alegado pirata deixou perplexas as autoridades.
No entanto, sabe o JN, as polícias e o sistema prisional irão estar atentos e até monitorizar qualquer tipo de ameaça contra Rui Pinto ou mesmo contra os seus familiares.
Todos os perigos
Indiciado por seis crimes, dois de acesso ilegítimo, dois de violação de segredo, um de ofensa a pessoa coletiva e outro de extorsão qualificada na forma tentada, Rui Pinto vai aguardar julgamento em prisão preventiva. A medida de coação, decretada pela juíza Maria Antónia Andrade, do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, fundamentou-se em perigos de perturbação do inquérito, de fuga e de continuação da atividade criminosa.
Em 2015, Rui Pinto terá conseguido entrar no sistema informático do fundo de investimento ligado ao futebol Doyen Sports, que na altura tinha contratos com vários clubes portugueses. Terá conseguido apoderar-se de documentos, como contratos de jogadores com informações confidenciais e algumas até de legalidade duvidosa, que começaram a ser publicadas na Internet.
Através de um e-mail assinado por um misterioso "Artem Lobuzov", que pedia entre 500 mil a um milhão de euros para parar com a divulgação, contactou a Doyen e indicava um advogado como mediador. No encontro, vigiado pela PJ, apareceu Aníbal Pinto, que já defendera o jovem noutro processo. Ao JN, este advogado explicou que, quando se apercebeu de que "poderia estar em causa tentativa de extorsão", "imediatamente" abandonou a negociação.
PORMENORES
12 mil assinaturas em petição
A petição na Internet que exige a libertação de Rui Pinto já conta com perto de 12 mil assinaturas.
Benfica
Rui Pinto também é suspeito de ser o pirata informático por detrás do roubo dos e-mails do Benfica. Sobre este caso, o gaiense, de 30 anos, não fala. Mas assumiu ser o denunciante do Football Leaks, que divulgou os "podres" do futebol europeu, levando, por exemplo, o Fisco espanhol a recuperar milhões de impostos em falta.
Colaboração
Rui Pinto já foi ouvido como testemunha por procuradores franceses no âmbito de uma investigação por crimes económicos. Em Portugal, a Autoridade Tributária também já lhe pediu colaboração no âmbito de um inquérito de larga escala.