Um brasileiro, com 43 anos, viveu os últimos meses tranquilamente em Ílhavo. Nesta cidade do distrito de Aveiro, levava diariamente os filhos à escola antes de rumar ao local de trabalho. Nunca levantou qualquer suspeita entre os vizinhos, mas, nesta quarta-feira, foi detido pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) à porta de casa, no cumprimento de um mandado emitido pela Interpol. Afinal, o cidadão pacato e homem de família tinha sido condenado, por ajudar uma poderosa rede criminosa a branquear os lucros do tráfico de droga, e andava fugido à Justiça brasileira. Apesar disso, foi libertado pelo Tribunal de Relação do Porto e está apenas obrigado a apresentar-se duas vezes por semana à Polícia.
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Segundo o JN apurou, o brasileiro agora detido nunca esteve envolvido diretamente no tráfico de droga. O seu papel era ceder contas bancárias para que o cartel, que se dedicava ao tráfico de droga somente em território brasileiro, pudesse movimentar parte das avultadas quantias angariadas com o crime. O indivíduo também permitia que as suas empresas e negócios fossem usados pela rede criminosa para branquear os lucros conseguidos com a venda de droga.
Estes crimes, apurou o JN, foram cometidos há cerca de dez anos e justificaram a sua condenação. Um comunicado do SEF explica que foi considerado culpado "do crime de branqueamento de capital proveniente de uma importante organização criminal dedicada ao narcotráfico" e sentenciado com "uma pena de até 10 anos de cadeia".
Viajou de avião para Portugal
Já conhecedor desta condenação, o brasileiro rumou, há menos de um ano, a Portugal. A viagem foi feita de avião e a entrada no país decorreu sem problemas, devido à lei que permite aos cidadãos do Brasil permanecer em território nacional por três meses, com um visto turístico.
Entretanto, o fugitivo radicou-se em Ílhavo, trouxe a família para junto de si e até tentou regularizar a sua situação junto do SEF. Também passou a ter uma atividade laboral e, todos os dias, antes de ir trabalhar, levava os filhos à escola.
Nunca levantou qualquer suspeita nos vizinhos, nem nas autoridades portuguesas com que foi contactando. Até porque terá cortado as amarras que o ligavam à rede de narcotráfico e tentado refazer a vida em Portugal.
Tudo se desmoronou, no entanto, quando, há menos de um mês, a Interpol recebeu um pedido da Justiça brasileira e divulgou um mandado de detenção em seu nome. Rapidamente, o SEF conseguiu localizar o fugitivo e, nesta quarta-feira, avançou para a sua detenção. O brasileiro foi surpreendido à porta de casa e não ofereceu resistência.
Levado ao Tribunal da Relação do Porto, o juiz validou a detenção e, refere o SEF, aplicou "a medida de coação de termo de identidade e residência, com apresentações bissemanais na entidade policial da área de residência". Ordenou ainda que brasileiro entregasse o passaporte ao tribunal, antes de permitir que aguarde a extradição em liberdade.