Material informático apreendido em Budapeste vai ser encaminhado para Portugal, onde informação será analisada para obter pistas sobre novos casos.
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Toda a informação contida no material informático apreendido a Rui Pinto, na Hungria, vai ser exaustivamente analisado pelas autoridades portuguesas e, caso existam indícios desconhecidos de crimes praticados em território nacional, Ministério Público (MP) e Polícia Judiciária (PJ) irão abrir novas investigações.
Foi o próprio Rui Pinto quem o disse: "algumas dessas informações [dos discos externos] contêm alegados crimes cometidos por cidadãos portugueses e são cidadãos demasiado poderosos para a realidade portuguesa. Não vou especificar. São cidadãos demasiado importantes não só em Portugal, mas também noutros países".
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Para já, esses dados alojados no material informático apreendido ainda estão à guarda das autoridades húngaras. Mas, tal como o JN já noticiou, independentemente de o pirata ser ou não extraditado para Portugal, os computadores, discos e telemóveis serão enviados para a PJ portuguesa para análise.
Num primeiro momento, serão recolhidos e aproveitados elementos relativos aos indícios dos crimes de acesso indevido e tentativa de extorsão referentes ao fundo de investimento Doyen, imputados a Rui Pinto e que motivaram o mandado de detenção.
Poderosos cidadãos
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Mas, ao fazer essa extração e análise, caso as autoridades se deparem com indícios de outros ilícitos, referidos por Rui Pinto como sendo praticados por "poderosos cidadãos", a informação será também analisada.
De acordo com fontes ligadas ao processo, essas informações não serão consideradas como provas, uma vez que a origem poderá ser ilícita (roubo de e-mails). No entanto, serão tratadas como informação primária e credível, dando origem a investigações autónomas, que até poderão contar com a colaboração do próprio Rui Pinto, caso assim ele o entenda.
"Essas informações irão naturalmente desencadear averiguações e, caso se confirmem as suspeitas, darão origem a novas investigações. As informações valiosas nunca caem em saco roto", explicou ao JN fonte ligada ao caso.
Depois de, anteontem, lhe ter sido decretada a extradição para Portugal, Rui Pinto anunciou recurso. Aos jornalistas disse não acreditar na justiça portuguesa, garantindo que não irá ter um julgamento justo: "Infelizmente não posso confiar nas autoridades portuguesas. Já deram provas de que, em casos relacionados com o futebol, são completamente parciais".
A decisão do recurso interposto pelos advogados de Rui Pinto deve ser conhecida em três semanas.
Ministra da Justiça garante polícias atentas à segurança de denunciante
Depois de o JN ter noticiado, na edição de ontem, que Portugal iria garantir a segurança pessoal de Rui Pinto, no caso de existirem ameaças credíveis, a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem manifestou-se convicta de que o Ministério Público e a Polícia Judiciária estão "seguramente atentos" a quaisquer factos relacionados com a segurança do alegado pirata informático, alvo de processo de extradição para Portugal. Francisca Van Dunem referiu ainda que se trata de um "processo judicial, dirigido pelo Ministério Público" e que, quanto às alegadas questões de segurança pessoal do arguido, "se as houver, aí há instâncias competentes para fazer essa avaliação e tomarem as medidas necessárias".