Armas eram transformadas em pequena oficina montada numa residência localizada a menos de cinco quilómetros do principal edifício da Câmara da capital. PSP apreendeu 93 armas, centenas de munições e 12 silenciadores na habitação de traficante condenado a oito anos de prisão
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Foi numa casa a menos de cinco quilómetros de distância do principal edifício da Câmara de Lisboa que o ex-soldado do Exército ucraniano com formação em engenharia mecânica modificou centenas de armas de alarme e de calibre Flobert, compradas no estrangeiro. Nesta habitação, que também servia como sua residência, Vitaly Guyvan montou uma pequena oficina na qual não faltavam rebarbadoras, limas, esmerilador, fresadoras e outras ferramentas necessárias à transformação das pistolas e revólveres em armas de fogo de calibre .22, 7,65 mm e 9 mm.
No caso das armas com este último calibre, a alteração começava com a perfuração dos canos e posterior colocação de estrias. Nas armas com sistema Flobert era retirado o cano redutor de calibre, o que permitia que esta ficasse apta a deflagrar munições de calibre maior. O mesmo era feito nas armas de sistema modelo K22F, Xtrime, de calibre 6 mm, que, após a intervenção, disparavam munições de calibre .22.
Já nas armas de Gás-Alarme era necessário proceder à substituição do cano original por um cano estriado. Só assim estas passavam a efetuar disparos com munições de calibre .380 (equivalente a 9mm) ou .22.
Recorria a especialistas estrangeiros
O luso-ucraniano, condenado a oito anos de prisão por liderar uma associação criminosa dedicada ao tráfico de armas, também modificava armamento originariamente construído para funcionar com munições de calibre 7,65m, mas que tinha sido, legalmente, modificado, no país de aquisição, para armas de calibre 4mm, 6 mm ou 8mm, sistema flobert.
Nestas situações, Vitaly Guyvan retirava o redutor de cano para dar às armas capacidade de efetuar disparos novamente com munições originais.
A investigação do Departamento de Armas e Explosivos da PSP apurou que o traficante também recorreu a outros indivíduos, residentes na Ucrânia, para trabalhos específicos, nomeadamente a realização da estriagem dos canos das armas Walther P22.
Balança de precisão para pesar pólvora
Era ainda na oficina montada na casa situada no centro da capital portuguesa que o traficante, detido em 2019, também fabricava as munições que podiam ser usadas nas armas ilegalmente modificadas. Após adquirir - separadamente para não levantar suspeitas - cápsulas, projéteis, fulminantes e pólvora, Vitaly Guyvan fixava o fulminante na base da cápsula com recurso a um torno para bancada fixa.
Em seguida, pesava e doseava (com uma balança de precisão e um moinho) a pólvora, que punha no interior da cápsula. Por fim, era usada uma prensa para comprimir o projétil no invólucro.
Durante a busca efetuada à residência de Vitaly Guyvan, a PSP encontrou e apreendeu 93 armas, muitas das quais já alteradas, centenas de munições, mais de 1400 projéteis para carregar munição, 25 carregadores, alguns com capacidade para 31 munições, mais de 1000 fulminantes, 12 silenciadores de vários tamanhos e várias peças de armas.