Despedimento de ex-diretor de comunicação leonino foi parar à Relação de Lisboa. PJ associou interesse do processo laboral a negócio do Novo Banco.
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O Ministério Público (MP) acusa o empresário José Veiga de ter pago 345 mil euros a Rui Rangel, para garantir negócios no Benfica, caso o juiz da Relação de Lisboa viesse a vencer eleições no clube encarnado, e ajuda em processos judiciais. Segundo a acusação da Operação Lex, Veiga recorreu a Rangel em dois processos em que era parte e no litígio laboral que Pedro Sousa, ex-diretor de comunicação do Sporting, mantinha com este clube e que estava pendente no Tribunal da Relação de Lisboa.
Em 2015, Pedro Sousa era administrador da agência de comunicação Pyrsia e colaborava com Veiga para recuperar a sua imagem, recorda o MP, retendo também o momento em que aquele enviou a Veiga, que estava na República do Congo, o número do seu processo e o nome da juíza-relatora a quem ele fora distribuído no Tribunal da Relação de Lisboa. A acusação reporta ainda contactos entre Veiga, o arguido e oficial de justiça Octávio Correia e Rui Rangel, a propósito do processo do despedimento do ex-diretor de comunicação, mas não chega a referir o seu desfecho - um acordo entre o clube e Pedro Sousa, atual diretor do Canal 11.
Bes de Cabo Verde
Ao JN, Pedro Sousa não quis comentar a acusação, nem a tese da Polícia Judiciária. Esta, no relatório da investigação, sustentou que o grande interesse de Veiga era ter a ajuda de Pedro Sousa no negócio de compra do BES de Cabo Verde. Sousa era casado com Patrícia Gallo, que teria acesso a informação privilegiada e a Sérgio Monteiro, ex-secretário de Estado que fora nomeado para gerir os ativos do Novo Banco.
O contrato de compra do banco de Cabo Verde foi assinado, mas seria anulado, por força da operação Rota do Atlântico, em que Veiga foi detido. Mas, seja como for, a tese da PJ sobre o BES Cabo Verde não consta da acusação do MP, que ouviu Pedro Sousa, em 2019, como testemunha.
Negócio de João Pinto
Os outros dois processos em que Veiga pediu ajuda a Rangel relacionavam-se com a transferência de João Pinto do Benfica para o Sporting. Num processo-crime, o empresário tinha sido condenado a uma pena de quatro anos e meio, mas seria absolvido na Relação de Lisboa. No processo fiscal dali decorrente, evitaria o pagamento de cerca de três milhões de euros ao Fisco a que fora condenado inicialmente.
Como já noticiado, Veiga também despendeu 55 mil euros no pagamento da campanha de Rui Rangel à presidência do Benfica, em 2012, por entender que isso lhe poderia proporcionar bons negócios no futuro.