Alerta internacional levou a PJ até à residência de Foz Côa, quando já tinha sido acolhida pelo sacerdote agora sob suspeita. Centenas de imagens com pornografia de menores apreendidas.
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A alegada vítima de tráfico de pessoas e abuso sexual pelo padre António Júlio Pinto, de Vila Nova de Foz Côa, foi detida em 2016 pelo crime de pornografia de menores, numa altura em que já tinha sido acolhida pelo sacerdote e um ano antes de este se tornar legalmente seu tutor. Seria acusada pelo Ministério Público (MP) daquele crime, mas no decurso do processo foi declarada inimputável.
Tal como o JN noticiou no sábado, o próprio padre António Pinto, de 63 anos, tinha sido visado noutro inquérito, em 2015, na sequência de uma denúncia anónima que foi considerada credível e o ligava a um caso de prostituição masculina, na mesma zona. O inquérito seria arquivado pelo MP em agosto daquele ano, ao fim de quatro meses de investigação por parte da Polícia Judiciária (PJ) da Guarda. Apesar das suspeitas fortes, não foram encontradas vítimas dos crimes denunciados.
Alerta internacional
Pouco mais de um ano depois deste episódio, um alerta internacional da rede que monitoriza atividades pedófilas na Internet chegou à PJ, com informação sobre um utilizador suspeito que foi suficiente para os inspetores chegarem à agora vítima de abuso sexual e tráfico de pessoas, hoje com 44 anos, que já na altura residia em Vila Nova de Foz Côa. O antigo sem-abrigo tinha sido acolhido em 2015 por António Júlio Pinto, na casa paroquial de Horta do Douro, residência oficial do pároco, passando a ter um teto e alimentação garantidos.
Segundo informações recolhidas pelo JN, foi feita uma busca em casa do homem e no seu computador os inspetores da PJ descobriram centenas de imagens e vídeos com conteúdos pedófilos que foram apreendidos. O suspeito foi formalmente detido em outubro de 2016.
No decurso do inquérito, o protegido do padre António Júlio Pinto viria a ser acusado pelo Ministério Público da prática do crime de pornografia de menores e julgado, mas o processo terminou com a declaração de inimputabilidade do arguido, depois de atestada a sua incapacidade.
Tutor oficial em 2017
Após o final do processo, o arguido continuou a viver no mesmo local onde tinha sido acolhido pelo padre Pinto e, no ano seguinte, em 2017, foi legalmente declarada a responsabilidade do sacerdote sobre o antigo sem-abrigo. Tornou-se seu tutor.
Nos últimos anos, a alegada vítima ocupava-se da limpeza da igreja local e desempenhava a função de sacristão, cabendo-lhe também alguns trabalhos de jardinagem e abrir o bar do centro de convívio para os paroquianos.
A situação manteve-se até à detenção do padre António Pinto, na quinta-feira passada, por inspetores da Diretoria do Norte da PJ, por suspeita da prática dos crimes de tráfico de pessoas e abuso sexual de pessoa incapaz de resistência (ler caixa).
Levado anteontem perante um juiz de instrução o sacerdote foi libertado, mas ficou proibido de contactar com a alegada vítima e está obrigado a apresentar-se quinzenalmente às autoridades.
Abuso sexual e tráfico
"Aproveitando-se das incapacidades psíquicas e da especial vulnerabilidade da vítima, o arguido veio depois a exigir-lhe serviços sexuais, fechando-a em casa e vedando-lhe qualquer contacto com o exterior quando recusava aceder aos seus propósitos", relatou a PJ no comunicado que fez sobre a detenção do padre António Júlio Pinto. O crime de tráfico de pessoas estará justificado pelo facto de o padre oferecer trabalho ao antigo sem abrigo, sem qualquer remuneração, apenas a troco de alojamento e comida.