Insegurança causada pelo tráfico e consumo de droga está a deixar desesperados moradores de vários bairros da cidade do Porto. Câmara do Porto implementou a mesma medida há 20 anos, mas o projeto revelou-se ineficaz e acabou por ser extinto.
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Cansados de esperar por uma intervenção de fundo dos poderes públicos, os moradores dos bairros anexos à Pasteleira Nova, no Porto, resolveram tomar em mãos o combate ao tráfico e consumo de droga. Primeiro, organizaram-se em grupos de vigilância e, agora, contrataram guardas-noturnos para travar furtos e impedir que os consumos de cocaína e heroína continuem a ser feitos à porta das casas, nos passeios ou nos jardins. É o regresso a uma fórmula tentada há 20 anos e abandonada devido à ausência de resultados.
"Todos os bairros em volta da Pasteleira estão a contratar empresas de segurança. É a única forma de mitigar a insegurança que aqui se vive", afirma Francisco Fonseca, do Bairro das Condominhas. A mesma esperança tem João Brito. É ele quem explica, ao JN, que 62 pessoas criaram, na semana passada, a Associação de Moradores do Bairro das Condominhas, cuja primeira medida foi a contratação de dois guardas noturnos. O pagamento do serviço é assegurado por uma quota mensal de 20 euros, cobrada a cada membro.
Cristina Bacelar também está entre os fundadores da associação, ainda que considere "inadmissível" que "tenham de ser os moradores a fazer turnos para que exista o mínimo de segurança" e a contratar segurança. "Não compete aos moradores pagar do seu próprio bolso para guardas-noturnos estarem a tomar conta do bairro. Isto é surreal", defende.
Estes moradores queixam-se de "assaltos diários a viaturas" e "delinquentes a dormir e a drogarem-se na rua ". "A Pasteleira Nova é um segundo Aleixo e o problema está cada vez pior", resume João Brito.
A Associação de Moradores do Bairro Marechal Gomes da Costa faz as mesmas denúncias. "Sempre houve tráfico, mas, quando começou a pandemia, o problema multiplicou-se. Há uma impunidade total e, nas ruas, é tudo com os papéis de alumínio, a consumir e a vender droga", critica Cristina Costa Reis.
"O primeiro-ministro não gostaria de sair de casa e ver alguém a injetar-se no pescoço. Mas é isto que temos", lamenta Rui Carrapa, da Associação de Jardim Fluvial Sem Drogas.
Sem resultados
Não é a primeira vez que se recorre a segurança privada para garantir a segurança nos bairros portuenses. Em 2003, quando Rui Rio mandava na Câmara do Porto, o então vereador da Habitação, Paulo Morais, implementou o projeto-piloto em cinco bairros, incluindo a Pasteleira Nova, e, um ano depois, até anunciou o alargamento do serviço a outros locais.
Porém, volvidos três anos, um relatório da empresa municipal Domus Social acabou com tudo. "As competências das empresas de segurança privada e respetiva articulação com as forças policiais não eram adequadas à vigilância de espaços públicos com as características dos bairros municipais", lia-se no documento.
A sucessora de Paulo Morais, Matilde Alves, referiu, na altura, que estava a ser preparado "um modelo" que acabaria com o tráfico de droga e furtos nas ruas. Nada foi feito e, quase 20 anos depois da primeira experiência, volta-se a contratar privados para manter a segurança em bairros da cidade do Porto.
Câmara
Apoio total
Na semana passada, representantes de três associações de moradores reuniram-se com o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira. No final do encontro, a sintonia entre residentes e o autarca era total.
Criminalização
Os moradores subscreveram a proposta de Rui Moreira para o regresso da criminalização do consumo de droga no espaço público. "Está na hora de alguém olhar para nós", justificou Cristina Costa Reis.
Sala de consumo
A sala de consumo vigiado foi instalada, na Pasteleira Nova, em agosto de 2022, e, todos os dias, recebe mais de 150 toxicodependentes. Os técnicos exigem mais meios para retirar mais consumo das ruas.