A investigação criminal do chamado caso "Tutti Frutti", que começou em 2016 e ainda não resultou em qualquer acusação, permitiu recolher indícios de que o PS e o PSD terão firmado vários pactos políticos na Grande Lisboa, antes e depois das eleições autárquicas de 2017, sobre a constituição de listas de candidatos, a formação de maiorias políticas em juntas de freguesias e a contratação de "boys".
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Grande parte destas suspeitas foram noticiadas em junho de 2018, quando a Polícia Judiciária e o Ministério Público avançaram com cerca de 70 buscas, visando inclusivamente as sedes nacionais do PS e do PSD, mas foram reavivadas, na terça-feira, por uma reportagem da TVI/CNN, que pôs debaixo de fogo os ministros das Finanças, Fernando Medina, e do Ambiente, Duarte Cordeiro.
"Obviamente, mantenho toda a confiança política e tenho a maior consideração pela idoneidade do doutor Fernando Medina e do doutor Duarte Cordeiro", reagiu o próprio primeiro-ministro, António Costa, na Assembleia da República. Duarte Cordeiro afirmou que as suspeitas levantadas são "falsas e caluniosas", garantindo: "em 2017, o PS não celebrou qualquer entendimento com o seu adversário". Costa desafiou ainda o MP: "Se a justiça tem algum caso que desconheço que tenha - não tenho acesso à mesma informação que a TVI tem -, a justiça que exerça as suas funções, eu exerço a minha".
Várias interceções telefónicas de uma das figuras centrais do processo, o então ex-vice-presidente da bancada parlamentar do PSD Sérgio Azevedo, apanharam-no a dizer que tinha negociado com Fernando Medina, então presidente da Câmara de Lisboa, que o PS não apresentaria candidatos vencedores nas poucas juntas de freguesia do concelho então lideradas pelos sociais-democratas. Estavam em causa, sobretudo, as juntas da Estrela, Areeiro e Santo António. Os interlocutores de Sérgio Azevedo eram sobretudo colegas de partido, nomeadamente Luís Newton, presidente da Junta da Estrela.
Segundo as escutas telefónicas do processo, não houve só acordos pré-eleitorais. O PSD também terá negociado com o PS a formação de maiorias nos órgãos executivos de juntas de freguesia onde as votações tinham sido equilibradas. Esses acordos terão resultado em cedências de parte a parte, em diferentes autarquias.
André Ventura alvo de buscas
Alguns daqueles negócios políticos ter-se-ão refletido, ainda, em acordos sobre a contratação de militantes de ambos os partidos. "Nós deixamos que a vossa junta governe em maioria, mas temos três rapazolas que precisam de emprego", ilustra uma fonte próxima da investigação, observando que "isso acontece no país inteiro". No caso concreto, suspeita-se que nalguns daqueles casos foram contratados "assessores" que não prestaram o respetivo serviço.
Aqueles acordos sobre contratação de "boys" não visaram apenas as autarquias do concelho de Lisboa. André Ventura, então vereador do PSD em Loures (e hoje líder do Chega), foi um dos alvos das buscas realizadas pela PJ em 2018, porque teria um assessor fictício, isto é, um militante do PSD que recebia da Câmara de Loures mais de dois mil euros por mês e não trabalhava.