A comarca de Braga, que coincide com o distrito, é a que maior número de inquéritos-crime por corrupção (143) abriu em 2020, de acordo com o Relatório Anual de Segurança Interna.
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Seguem-se Faro com 68 e Aveiro com 64. A estatística espanta o autarca de Braga, juristas e empresários, e alguns atribuem-na a Vila Verde, de onde chegam dezenas de queixas por ano ao Ministério Público (MP). A partidarite, dizem, leva a que simpatizantes do PS se queixem dos autarcas do PSD, no poder, e os sociais-democratas respondam na mesma moeda, denunciando vereadores e a Misericórdia, tida como afeta à oposição. "São dezenas por ano, a maioria sem fundamento", disse um magistrado local ao JN.
O MP de Braga tinha em 2019 mais de 400 processos da área da criminalidade económico-financeira, que incluem participação económica em negócio - crime em que a comarca também lidera, com 26 inquéritos - fraude na obtenção de subsídio e fraude fiscal. Em 2020, foram arquivados 83 inquéritos de corrupção.
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"A ordem é para investigar tudo o que tenha o mínimo de credibilidade, mesmo que não dê em nada", diz o mesmo magistrado. Apesar de as acusações serem diminutas, nos corredores do Tribunal de Braga são frequentes as queixas de advogados e autarcas sobre o MP sobre uma suposta tendência para acusar sem provas. "Há um dado edil acusado de corrupção, mas sem que o magistrado diga quanto recebeu, como e onde", exemplificam. Já um antigo juiz disse ao JN que "o primeiro andar [o MP] dá um pontapé para cima aos processos, para o terceiro andar [o dos julgamentos coletivos], e a gente que se amanhe com acusações imperfeitas".
O presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público rejeita a crítica. "Pela minha longa experiência, posso garantir que, quando há indícios, mas sem provas, não se produz acusação", afirma Adão Carvalho, para quem os magistrados "atuam dentro da lei e de modo equilibrado".
O mais conhecido criminalista bracarense, o advogado Artur Marques, ficou espantado com o recorde da comarca. "Não corresponde à realidade. Só tenho dois processos dessa área em Braga e muitos outros pelo país. Braga é mais corrupta? Não acredito", afirma.
Câmara sem inquéritos a políticos
Com o recente arquivamento da investigação ao prolongamento do túnel da Avenida da Liberdade, não há inquéritos-crime envolvendo autarcas ou ex-autarcas eleitos. Continuam investigações, há sete anos, a um funcionário da Câmara e a obras em freguesias. "Braga terra corrupta é um mito", garante o edil Ricardo Rio.
Empresas não são corruptas
Uma das possíveis explicações para os índices de corrupção pode residir no facto de o distrito ter o maior número de empresas no país. Ricardo Costa, futuro presidente da Associação Empresarial do Minho, em instalação, diz que os crimes fiscais podem ter crescido com a crise económica e alguma intolerância do Fisco, mas rejeita que as empresas corrompam políticos: "é falso e nada o demonstra", sustenta.