Com um simples computador ligado à Internet, a partir de Setúbal, um casal de suecos conseguiu enganar empresas de todo o mundo com roubos de emails, levando-as a fazer transferências bancárias, na ordem de 1,7 milhões de euros, para contas que controlava.
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O sistema bancário bloqueou a maioria das transferências mas, ainda assim, o casal, atualmente em prisão preventiva, recebeu 645 mil euros e embolsou 300 mil, até ser detido pela PJ, no ano passado. Os arguidos foram agora acusados pelo Ministério Público (MP) de burla, branqueamento e acesso indevido. Outros oito arguidos que serviam de "mulas financeiras" irão responder por recetação.
De acordo com a acusação do MP, Michel M., de 38 anos, e Malicka N., de 28, vieram viver para Portugal em meados de 2017, quando já eram procurados na Suécia por burlas informáticas. A partir de Setúbal continuaram os crimes.
Com o chamado "pishing" eletrónico, conseguiam entrar em caixas de correio eletrónico de empresas e assim roubar a correspondência comercial. Identificavam outras firmas que deviam dinheiro à empresa "pirateada". As faturas pendentes de pagamento eram aproveitadas e, fazendo-se passar pela empresa credora, enviavam um email aos devedores para que saldassem as dívidas. Na carta eletrónica, colocavam números de contas bancárias que controlavam para receber o dinheiro. Desviavam assim as quantias do legítimo beneficiário.
Da china à Roménia
A primeira empresa lesada identificada pelo MP foi uma firma de têxtil situada na Roménia, que tinha de pagar mais de 64 mil euros de uma fábrica chinesa. Fazendo-se passar pela empresa "Wuhan, LTD", enviaram um email à firma "SC Siretul", em que solicitavam o pagamento da quantia de 76 mil dólares, indicando uma conta aberta no Montepio Geral de Setúbal. A empresa pagou e os arguidos fizeram imediatamente vários levantamentos em dinheiro, para além de duas transferências internacionais de perto de 40 mil euros, que vieram a ser anuladas pelo Montepio Geral por suspeitas de origem fraudulenta dos fundos.
Dezenas de contas
Seguiram-se duas dezenas de burlas a empresas do Paquistão, Malásia, México, Alemanha, Rússia, Estados Unidos, Espanha, Itália, China ou Uruguai e até mesmo pessoas particulares da Suécia.
Quando o sistema bancário começou a travar as transferências, os arguidos procuraram pessoas com dificuldades económicas da zona de Setúbal, que abriram dezenas de contas para servirem de "mulas" financeiras.
PORMENORES
Casino
Imediatamente após ter recebido uma transferência de 94 mil euros de uma empresa norte-americana, o casal foi ao casino de Tróia, onde comprou 50 mil euros em fichas de jogo.
Empresa Miele
Em novembro de 2017, conseguiram aceder aos emails da multinacional Miele e levaram duas empresas devedora da firma de eletrodomésticos a fazer-lhes uma transferências de 60 mil euros.
Mandado europeu
Michel é alvo de um mandado de detenção europeu emitido pela Suécia.