Esposa do antigo patrão do BPP estaria na iminência de sair do país. É suspeita de branqueamento de capitais e sempre esteve em contacto com marido foragido.
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Maria de Jesus Rendeiro, a mulher do antigo patrão do Banco Privado Português (BPP), esteve sempre em contacto com o marido nas últimas semanas, já após a fuga de João Rendeiro. É suspeita de crimes de falsificação, branqueamento de capitais e descaminho de obras de arte arrestadas por ordem judicial e estaria a planear sair do país, eventualmente para ir ter com o marido. Foi ontem detida pela Polícia Judiciária (PJ) que realizou buscas em casas do ex-motorista do casal e do pai deste, o presidente da Associação Nacional dos Transportes Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL), Florêncio de Almeida. Há suspeitas de que ambos tenham ajudado o casal Rendeiro a esconder património desviado do BPP, através de transferências de imóveis.
O inquérito do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) visando a mulher de Rendeiro é bastante recente. Foi aberto depois de surgirem notícias sobre a venda de dois imóveis do casal ao ex-motorista e ao pai deste, que é um amigo de longa data do antigo presidente do BPP.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, nos últimos dias a investigação, a cargo da Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC), obteve informações que apontavam para a forte probabilidade de a mulher com quem o ex-banqueiro está casado há 40 anos fugir. É que, desde que Rendeiro saiu do país, ao que tudo indica para o Belize, anunciando que não iria voltar, Maria de Jesus nunca deixou de o contactar.
"Por se ter considerado existir um forte perigo de fuga, para a aquisição e conservação da prova e para a descoberta da verdade, contra uma suspeita foram emitidos e cumpridos mandados de detenção para ser apresentada, no prazo de 48 horas, a primeiro interrogatório judicial com vista à aplicação de medidas de coação adequadas", adiantou ontem o DCIAP. O que deverá acontecer hoje.
Desvio das obras de arte
Em causa neste inquérito estão os dois negócios imobiliários (ler texto à direita), que as autoridades suspeitam tratar-se de uma operação de branqueamento de capitais, mas também o descaminho de obras de arte arrestadas, avaliadas em milhões de euros. São 124 pinturas e esculturas apreendidas em 2010 a Rendeiro no âmbito do processo em que foi condenado a cinco anos e oito meses, por manipulação das contas do BPP.
Maria de Jesus, que era fiel depositária das obras de arte, é suspeita de ser cúmplice no desvio de 18 peças. Oito delas terão sido vendidas por 1,3 milhões de euros, nos últimos meses. Quatro quadros terão sido substituídos por cópias, o que foi detetado há dias, após uma vistoria da PJ à residência do casal, em Cascais. O tribunal já deu, entretanto, ordens para recolher todas as obras ainda na posse da mulher de Rendeiro.