Ministério Público já promoveu ação para que o casal, em prisão preventiva, perca responsabilidades parentais sobre as três crianças que viviam na casa.
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Valentina nunca teve uma vida fácil. Nasceu de uma relação ocasional e o pai, que, com a ajuda da madrasta, acabou por lhe tirar a vida, na semana passada, em Atouguia da Baleia, Peniche, não a desejava, nem queria dar-lhe o seu nome. Só a reconheceu à força, mediante testes de ADN, quando a filha já tinha um ano. Com o pai e a madrasta em prisão preventiva, o Ministério Público (MP) já intentou um processo para que o casal perca as responsabilidades parentais sobre as três crianças que viviam com eles.
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De acordo com informações recolhidas pelo JN, Sónia Fonseca, mãe de Valentina, e Sandro Bernardo tiveram uma relação curta, mas que resultou na gravidez da mulher. Rejeitada por Sandro, Sónia passou a gravidez quase sozinha, sem ajuda de ninguém. Quando Sónia deu à luz, na certidão de nascimento não constava o nome do pai.
Mas a mulher sabia quem era o progenitor, que acabou obrigado a realizar testes de ADN, que comprovaram a paternidade. Ainda assim, contou uma amiga da mãe ao JN, Sandro nunca assumiu o papel de pai. Não queria saber da filha, nem ajudava financeiramente.
"Nunca viveram juntos. Nunca houve afetos por parte do pai, pelo menos nos primeiros anos de vida e até as famílias não queriam saber da menina. Tanto os familiares de Sónia, como os do pai, não ligavam nenhuma", confiou a amiga da mãe.
Gostava da madrasta
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Com o passar dos anos, e os incentivos de Sónia para a aproximação, o pai mudou de atitude. Há cerca de dois anos, Valentina começou a visitá-lo frequentemente, em Peniche. A regulação das responsabilidades parentais, por ordem judicial, permitia visitas aos fins de semana.
"A Valentina gostava de lá ir e até gostava da madrasta. Dizia isso à mãe que ficava alegre com o facto de se darem bem", explica a amiga, que não percebe como Sandro e Márcia puderam matar e ocultar o cadáver da criança de nove anos. Valentina esteve cerca de seis horas morta no sofá, onde o pai e a madrasta a deixaram, depois de o progenitor a ter torturado com água a escaldar e pancadas, durante o banho. Desfizeram-se do cadáver à noite.
O crime foi cometido no passado dia 6, na casa onde viviam Sandro, Márcia e os três menores (dois filhos de ambos e um, com 12 anos, da madrasta de Valentina). Perante o crime e o quadro da família, o MP já acionou mecanismos para proteção das crianças.
"Foram tomadas providências em sede de processo judicial, sob promoção do Ministério Público, não sendo possível disponibilizar mais informação atendendo à natureza reservada do processo, que decorre da necessidade de preservar a privacidade das crianças", explicou, ao JN, fonte da Procuradoria-Geral da República.