Ministério Público tem inquérito em curso para apurar se transferência de Matheus Oliveira pelo dobro do valor de mercado influenciou vitória em 2017.
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O Ministério Público (MP) está a investigar a compra de um futebolista do Estoril Praia pelo Sporting. Há suspeitas de que a aquisição por dois milhões de euros do passe de Matheus Oliveira tenha sido inflacionada e servido para que a equipa verde e branca fosse beneficiada num jogo contra o Estoril, em fevereiro de 2017. A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou a investigação.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, o inquérito está a cargo da equipa especial do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), que investiga crimes relacionados com o futebol. É a mesma equipa que também tem o processo dos e-mails do Benfica e casos relacionados com outros clubes.
Em causa estão suspeitas de que o Sporting, então liderado por Bruno de Carvalho, tenha concretizado a compra, em julho de 2017, no final da época, do médio ofensivo Matheus Oliveira por um preço muito acima do seu real valor de mercado. As autoridades acreditam que o negócio possa ter garantido a vitória dos leões no jogo de 25 de fevereiro de 2017, que a formação de Alvalade venceu por 2-0, com um golo de Bryan Ruiz aos 22 minutos e um penálti apontado por Bas Dost aos 86 minutos.
Matheus Oliveira, que chegou a custo zero do Flamengo para o Estoril Praia em junho de 2016, depois de época e meia de empréstimo, foi comprado pelo Sporting no ano seguinte por dois milhões de euros. De acordo com plataformas de avaliação de jogadores, o médio tinha um valor de mercado de cerca de um milhão. Ou seja, o Sporting pagou o dobro do seu valor aos estorilistas, cuja SAD era detida, à época, em cerca de 75%, pela empresa brasileira Traffic Sports Europe. A posição acionista foi, entretanto, vendida.
Ligação ao Cashball
Quem intermediou a transferência do atleta foi a empresa BMG Sport, Lda., gerida por João Gonçalves, arguido no processo "Cashball", que foi apontado por João Silva - o denunciante do caso que garantiu ter corrompido árbitros de andebol e jogadores de futebol - como elo de ligação com o Sporting e correio do dinheiro para pagar as alegadas luvas. A Polícia Judiciária terminou, entretanto, a investigação do "Cashball" com proposta de arquivamento para todos os arguidos, à exceção do denunciante.
Ainda segundo apuramos, o DCIAP, que investiga a alegada compra inflacionada de Matheus, pediu ao Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto, que tutela o processo Cashball, para aceder ao conteúdo do telemóvel de João Gonçalves e verificar se contém matéria relacionada com a intermediação do negócio entre o Estoril Praia e o Sporting. O DCIAP também terá solicitado todos os extratos das contas bancárias deste empresário, assim como da empresa BMG Sport.
Nunca vingou
Matheus nunca chegou a vingar no clube de Alvalade e seis meses depois de ter sido comprado foi emprestado ao Vitória de Guimarães até junho de 2019, data em que regressou ao Sporting. Desde então, nunca jogou para o campeonato e até treinava à parte do plantel principal, tendo sido convocado uma vez por Rúben Amorim, mas sem nunca ter pisado o relvado. Já esta época foi emprestado ao Coritiba, do Brasil, onde marcou um golo, há dias, após meses de jejum. Tem contrato de empréstimo até junho de 2021.
Estoril visado noutro inquérito
O Estoril está a ser investigado num outro inquérito que envolve o F.C. Porto. A 15 de janeiro de 2018, começava uma partida entre os dois clubes que, por motivos de segurança, foi interrompida e retomada 37 dias depois. Os dragões acabariam por vencer o jogo por 3-1, mas uma denúncia anónima, relatando uma alegada reunião entre um representante da Traffic, empresa que detinha a maioria do capital da SAD do Estoril, um empresário e um dirigente do F. C. Porto, antes da segunda parte do encontro, levou o MP a abrir uma investigação. No "intervalo" tinha sido feita uma transferência bancária de 730 mil euros do F. C. Porto para os canarinhos, que os dragões justificaram como pagamento de dívidas para com o Estoril Praia, sobre a transferência do Carlos Eduardo para o Al Hilal e a cedência de Licá.