Operação de limpeza nas antigas minas começa na segunda-feira e vai durar oito meses. População satisfeita com remoção. Câmara de Gondomar espera que Governo ajude a reabilitar aquela área.
Para a população de S. Pedro da Cova, Gondomar, a segunda fase de retirada de resíduos perigosos das antigas minas, que começa depois de amanhã, "peca por tardia". Mas, ainda assim, reconhecem que "é o melhor que pode acontecer à freguesia". O ministro do Ambiente, Matos Fernandes, e o presidente da Câmara, Marco Martins, vão assinalar o início dos trabalhos, acompanhando a saída do primeiro camião carregado com lixo tóxico.
É pela Rua do Castanhal, junto às piscinas municipais, que nos próximos oito meses os camiões voltam a sair com os resíduos perigosos retirados das escombreiras das antigas minas de carvão, com destino à Chamusca, onde serão tratados.
Todavia, a operação de transporte das 125 mil toneladas restantes não será feita nos mesmos moldes da primeira fase, há seis anos. Segundo o autarca de Gondomar, "mais de 90% dos resíduos vão por via ferroviária". "Os resíduos vão sair já em contentores e os camiões apenas os vão levar até ao comboio, em Campo, Valongo. Com esta metodologia, estamos a contribuir para a redução da pegada ecológica", sublinhou.
Por dia, é expectável que sejam retiradas "cerca de 800 toneladas", avançou o edil. Contas feitas, serão 32 camiões a sair com lixo tóxico das antigas minas todos os dias. Há mais de um mês que arrancaram os trabalhos de desmatação e de limpeza dos terrenos, sendo já visível à saída do estaleiro uma balança onde cada camião carregado será pesado e um lava-rodados.
"A retirada dos resíduos perigosos vem tarde, mas sempre vem! O que já não é mau", desabafou ao JN Luís Monteiro, 33 anos, sublinhando que a população de S. Pedro da Cova "não merecia" ter passado por isto.
A mesma opinião tem Lucinda Rodrigues, 53 anos, convicta de que tudo se tratou de "politiquice". E acrescentou: "Muita gente morreu com cancro e não se saberá se foi por causa dos resíduos perigosos aqui depositados".
Talvez por isso, Delfim Serra, 68 anos, seja cauteloso: " O melhor era não se mexer em mais nada". Mas logo se ouve um chorrilho de críticas: "O bom é tirar! E quanto mais depressa, melhor", solta José Cunha, 63 anos. Também José Cruz, 70 anos, é da mesma opinião: "Durante 18 anos fui o responsável pelo pavilhão lá à beira e sempre achei muito estranho os carregamentos acontecerem sempre à noite. Boa coisa não era".
"Fazer justiça"
"Tínhamos a obrigação de fazer justiça para com esta população, que merece ser compensada", desabafou ao JN Marco Martins, destacando "a vontade do Governo para refinanciar, com 12 milhões de euros, a retirada total dos resíduos", em articulação com a Câmara, "que viabilizou que isso acontecesse quando expropriou os terrenos".
"Só espero que o Governo reconheça o nosso trabalho e nos ajude a requalificar esta zona", reforçou o presidente. Nos planos do Município está a reabilitação de toda esta área, envolvendo o Cavalete de S. Vicente (cuja obra vai custar 400 mil euros), assim como criar uma outra "porta de entrada" para o Parque das Serras do Porto.
Junho de 2001 - A Siderurgia Nacional, na Maia, começa a depositar resíduos nas minas de S. Pedro da Cova. Em fevereiro de 2002, a DRAOT ordenou a cessação da deposição.
Março de 2011 - Após 10 anos de suspeitas, análises do Laboratório Nacional de Engenharia Civil confirmam que os resíduos são perigosos.
Outubro de 2014 - Começam os trabalhos de remoção, após muitos avanços e recuos.
Julho de 2017 - Governo aprova 12 milhões de euros para remoção do que resta dos resíduos perigosos.
Novembro de 2018 - Foi aceite uma providência cautelar apresentada por um dos proprietários dos terrenos, impedindo a entrada nas minas.
Julho de 2020 - Câmara de Gondomar tomou posse dos cerca de 19 hectares onde ainda estão depositados os resíduos perigosos.