Manuel Silva, um pescador português da Póvoa de Varzim, está há 20 dias retido num barco no porto de Paita, o segundo maior do Peru, na América do Sul, com mais 17 homens a bordo de outras nacionalidades. Impedido de pisar terra, por causa da pandemia de covid-19, está a ficar sem comida e sem combustível. O governo está a acompanhar o caso.
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"O que nos está a preocupar muito é que lhe está a acabar o gasóleo e os mantimentos. Há três dias mandaram-lhes três frangos para dezoito pessoas, o que é desumano. Os patrões e as autoridades nada fazem. Não há como trazê-lo para cá, porque não há voos, devido à covid-19. O gasóleo terminando acaba a eletricidade. E não têm nada para comer", conta João Silva, filho do pescador, ao JN.
O jovem tem tentado falar com o pai todos os dias, mas receia que este fique incontactável nos próximos tempos. "Para falar connosco tenho que carregar [saldo] um telemóvel de um indonésio, que está com ele, e só assim conseguimos falar. Acabando o gasóleo hoje, ele nem eletricidade vai ter para carregar [bateria] o telemóvel. Se isso acontecer, não vamos ter notícias dele", explica.
Num vídeo divulgado pelos filhos, o português de 46 anos descreve o ambiente vivido a bordo, "a 100 metros de terra". Nele garante que só quer salvaguardar a sua saúde e das pessoas que tem a seu cargo. "Não é normal chamar as autoridades portuárias e dizerem-nos que não podem fazer nada", afirma. "Dizem-me que é preciso chamar o armador, a embaixada, isto e aquilo. (...) É triste quereres comer e não poder. Quereres por a tua gente bem e não conseguires", relata o também capitão da embarcação.
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João Silva garante que o pai já tentou contactar com a embaixada para saber em que condições poderia tentar regressar ao país, mas sem grandes resultados. "O problema é que ele não consegue falar diretamente com a embaixada. Quanto a mim, pediram-me que enviasse um e-mail para a embaixada portuguesa aqui para que depois entrassem em contacto com a embaixada de lá, para conseguirem trazê-lo de volta", afirma.
Além de estar sem mantimentos, Manuel Silva, que já anda há seis meses no mar sem ir a terra, garante que o patrão ainda lhe deve seis meses de ordenado ("cerca de 15 mil euros"). "Custa estar seis meses sem ver ninguém (...), sabendo que há a possibilidade de chegar ao final desse tempo e vir de mãos a abanar", acrescenta o filho do poveiro.
Governo português acompanha o caso
A secretária de Estado das Comunidades disse esta segunda-feira ao JN que a rede diplomática está a acompanhar o caso. "O Ministério dos Negócios Estrangeiros foi informado hoje da situação do cidadão nacional. A Embaixada de Portugal em Lima já contactou diretamente o cidadão português para se inteirar da sua situação e das necessidades de apoio", afirmou Berta Nunes, numa declaração enviada ao JN.
A representação diplomática portuguesa "está também em contacto com as autoridades peruanas para agilizar o apoio ao cidadão nacional, continuando a acompanhar de perto a sua situação", acrescentou.