Uma rede social online. Uma jovem a quem adicionaram enquanto "amiga". Surgem, a partir dessa relação virtual, inúmeros convites desse alguém mais velho para um encontro real. As solicitações são diárias.
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Um estudo levado a cabo pelo departamento de Psicologia da Universidade canadiana de Guelph, situada na cidade de Ontário, aponta è rede social online Facebook (criado em 2004), a responsabilidade de desenvolver ciúmes, incrementar suspeitas e desconfianças entre casais, o que, em última instância, poderá contribuir para a sua separação.
"Does Facebook bring out the green-eyed monster of jealousy?", publicada no corrente mês na revista norte-americana CyberPsychology&Behavior, esta tese, com devida certificação científica, e baseada num universo analítico de 35 estudantes do ensino superior, de ambos os sexos, que acederam em participar, a maioria com um compromisso relacional sério com outra pessoa, concluiu que o Facebook expõe os indivíduos a informação muito ambígua acerca dos seus parceiros.
Defende, pois, que o potencial para o ciúme neste ambiente é flagrante, uma vez que há proporcionalidade entre o tempo dispendido no Facebook e o sentimento de perda que daí deriva, além de conjecturas acerca de hipotéticas traições sexuais, ou de envolvimentos com namorados do passado, só título de exemplo. Tal desemboca numa necessidade de controlo, minando o alicerce fundamental da confiança.
Ora, perante estas ilações, o JN lançou um repto dentro do próprio Facebook para indagar de opiniões sobre o assunto. No mural, foi dada a conhecer a conclusão do estudo. E as reacções não se fizeram esperar.
De acordo com Miguel Portas, deputado europeu do Bloco de Esquerda, "não é apenas o Facebook, mas o conjunto dos meios de comunicação inter-pessoal de que dispomos hoje que podem, ou não, ter essa e outras consequências, mesmo a sua inversa", acrescentando que "a internet alimenta a solidão bem como a convivialidade, tudo depende do modo como se usa e da situação afectiva de cada um".
Por sua vez o jornalista Paulo Querido, especialista em blogues, disse: "Sendo as redes sociais zonas onde as pessoas interagem, suponho ser de considerar como normal que tenham comportamentos humanos".
Já a escritora Alice Vieira, afirmou que "quando uma pessoa troca o amor pelo computador, é porque alguma coisa não funciona" e no caso " não será certamente o computador". Ideia corroborada pelo actor Alexandre Ferreira: "Se alguém se separa por causa do Facebook é porque só espoleta o que já existe, abrindo-se caixas de Pandora há muito cerradas".
Mas, claro, o Facebook não é só isso. Há contactos perdidos que se retomam - há colegas da escola primária que se recuperam - paixões que crescem e uma janela de oportunidade para que se desenvolvam relacionamentos amorosos. De forma mais tácita por uma parte e subtilmente consentida pela outra, ou de um modo mais óbvio de quem "assedia" e repudiado por o "alvo" em causa, existe uma panóplia de maneiras possíveis de privar com outrem através do teclado de um computador.
As experiências que o Facebook pode proporcionar são diversas. Mas o que tem de benéfico, - na óptica do combate ao isolamento, desabafar, conversar - pode também ter de pernicioso. E por certo que o balanço, se pesadas as consequências positivas e nefastas, será muito difícil de se aferir. Até porque as ideias defendidas por quem está enredado pelo Facebook se dividem. Ou melhor, pendem para a defesa da sua componente salutar.