Estreia esta quinta-feira o muito esperado novo filme de Miguel Gomes, Prémio de Realização em Cannes.
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Prémio de Realização em Cannes, uma das maiores distinções de sempre do cinema português, e nomeado como pré-candidato ao Óscar de Melhor Filme Internacional – atenção instituições, vamos lá apoiar mesmo a sério esta candidatura – chega hoje às salas de todo o país o último filme de Miguel Gomes, “Grand Tour”.
A história que nos conta é a de um oficial do governo britânico que, na Birmânia de 1918, espera a chegada da noiva. No entanto, decide escapar a esse compromisso, já com sete anos, no mesmo dia em que ela chega. Só que a noiva não desiste e vai à sua procura, iniciando cada um deles um Grand Tour pelo continente asiático.
Miguel Gomes mostra a sua paixão pela história do cinema e do cinema português, e não se esqueceu dos anos iniciáticos enquanto crítico de cinema e cinéfilo. O deslumbrante preto e branco da maior parte do filme, fotografado por Rui Poças e integrando imagens filmadas pelo próprio realizador e pela sua colaboradora e companheira, Maureen Fazendeiro, não deixa de evocar o melhor Sternberg dos anos de Marlene Dietrich ou da sua imperial obra final, “A Saga de Anatahan”. E a sombra de Manoel de Oliveira, mestre de várias gerações de realizadores portugueses, paira também no filme. A presença de Diogo Dória no elenco não o desmente.
No entanto, “Grand Tour” é Miguel Gomes puro. Evocando “Tabu”, outro dos títulos da sua filmografia, esta nova obra de Gomes inscreve-se na sua paixão pelos filmes em duas partes. Aqui, além de sublinhar os paradoxos temporais, filmando na contemporaneidade uma obra que se situa cem anos atrás, Gomes evita a montagem paralela, contando primeiro a visão dele, depois a dela.
“Grand Tour” é uma aposta forte no cinema enquanto forma de expressão artística e de contar e transmitir histórias. O que Miguel Gomes faz com talento e enorme liberdade criativa. Cabe a si, leitor/espetador, deixar-se levar nesta aventura.