
Mark Zuckerberg durante a apresentação da conferência Meta Connect 2025, na terça-feira, nos Estados Unidos
Foto: Benjamin Legendre / AFP
Um conjunto de documentos judiciais revela que a Meta suspendeu uma investigação interna que associava pausas no Facebook a melhorias na saúde mental. A empresa rejeita críticas e sustenta que o estudo tinha falhas graves.
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A Meta enfrenta acusações de ter encerrado antecipadamente um estudo interno que indicava que o uso do Facebook poderia agravar problemas de saúde mental. As revelações surgem num processo movido por distritos escolares nos Estados Unidos, que argumentam que a empresa conhecia riscos associados às suas plataformas e não os comunicou de forma transparente.
O trabalho científico, realizado em 2020 e batizado de "Projeto Mercúrio", envolveu a colaboração da consultora Nielsen. Segundo a agência "Reuters", o objetivo era simples: perceber o que acontecia quando os utilizadores interrompiam temporariamente o acesso ao Facebook. As conclusões apontaram para uma melhoria clara do bem-estar emocional entre quem se afastou da plataforma durante uma semana, incluindo menor sensação de ansiedade, depressão e isolamento. Os documentos entregues ao tribunal sugerem que estes resultados provocaram desconforto dentro da tecnológica.
A investigação acabou por ser interrompida e as etapas seguintes não avançaram. Segundo os queixosos, a Meta justificou a decisão com o argumento de que a perceção pública negativa sobre a empresa poderia ter influenciado as respostas dos participantes. Mesmo assim, alguns investigadores internos manifestaram discordância e defenderam a robustez dos resultados. Há registos que mencionam impacto direto na comparação social dos utilizadores, bem como preocupações de que omitir estes dados fosse comparável a antigas estratégias da indústria do tabaco para ocultar evidência científica.
Apesar das conclusões apontadas pelos seus próprios investigadores, a Meta terá afirmado perante o Congresso dos Estados Unidos que não possuía meios para avaliar o impacto das suas plataformas na saúde mental de adolescentes.
Práticas das redes sociais sob pressão adicional
O porta-voz Andy Stone rejeita as críticas e garante que o estudo foi interrompido por problemas metodológicos. Sublinha ainda que a Meta tem investido de forma consistente na segurança de menores e que várias medidas introduzidas ao longo da última década visam precisamente reforçar a proteção de adolescentes.
O processo judicial vai além da Meta e envolve outras plataformas, como Google, TikTok e Snapchat. Os distritos escolares alegam que estas empresas apresentam riscos significativos para crianças e jovens e que nem sempre adotam práticas eficazes para limitar esses perigos. Entre as preocupações apresentadas, estão a falta de mecanismos fiáveis para travar conteúdos ligados a abuso sexual infantil e a alegada tentativa de algumas plataformas de levar organizações vocacionadas para a infância a defenderem a segurança destes serviços digitais.
No caso da Meta, os documentos citados incluem críticas à eficácia de parte das ferramentas de proteção juvenil. Algumas das medidas teriam sido concebidas de forma insuficiente e certos testes internos não passaram da fase inicial, por receio de que prejudicassem o crescimento da plataforma. O processo refere ainda critérios considerados demasiado permissivos para remover contas associadas a tentativas de tráfico sexual.
Os queixosos mencionam também uma mensagem atribuída a Mark Zuckerberg, datada de 2021, onde se referia que a segurança infantil não seria a principal prioridade numa fase em que o foco da empresa estava centrado no metaverso. Solicitações internas para reforçar equipas dedicadas à proteção de menores terão ficado sem resposta.
A Meta afirma que estas interpretações estão descontextualizadas e defende que as políticas atuais são muito mais rigorosas. Segundo Andy Stone, contas associadas a tráfico sexual são removidas de imediato e as medidas de proteção juvenil são amplamente eficazes.
O tribunal continua a analisar os documentos entregues no processo. A Meta pediu para que parte do material não seja tornada pública, alegando que o pedido dos distritos escolares abrange demasiada documentação. A decisão será conhecida numa audiência marcada para 26 de janeiro no Tribunal Federal do Norte da Califórnia, EUA.

