O jornalista David Lopes Ramos, que morreu sexta-feira, aos 63 anos, no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, era um dos mais respeitados críticos de gastronomia e vinhos do país. Era "ouro de lei", nas palavras de José Quitério.
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Nasceu a 26 de Janeiro de 1948 em Pardilhó, Estarreja, terra a que manteve sempre uma tão profunda ligação que pediu que as suas cinzas fossem deitadas nas águas da Ria de Aveiro.
No final dos anos 1960, estudou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em tempos de agitação estudantil na qual participou activamente.
Residiu na república estudantil Ninho dos Matulões, ao lado do grande amigo de sempre, Domingos Lopes, e de Artur Jorge, Eugénio Alves, Ribeiro Cardoso e Osvaldo Castro. Foi membro do secretariado do Conselho das Repúblicas, que patrocinava o movimento estudantil.
Em 1970, David Lopes Ramos filiou-se no Partido Comunista Português, do qual se afastou recentemente, com a discrição que o caracterizava.
Em 1971, iniciou-se na profissão de jornalista na revista Vértice, com Joaquim Namorado.
Chamado para o serviço militar em 1973, David Ramos foi enviado para os Açores, onde viveu por dentro o 25 de Abril de 1974. Ernesto Melo Antunes e Vasco Lourenço envolveram-no no Movimento das Forças Armadas (MFA). Ainda no serviço militar, foi adido de imprensa de Vasco Gonçalves, primeiro-ministro em 1975.
Regressou ao jornalismo ainda em 1975, na redacção do Diário de Notícias, da qual foi suspenso na sequência do 25 de Novembro desse mesmo ano. Fez parte do grupo de fundadores do jornal O Diário, em 1976, onde começou nos anos 1980 a fazer crónicas de gastronomia a par da actividade jornalística.
Em 1989, fez parte do grupo de fundadores do jornal Público, onde se manteve até se reformar há alguns meses.
A excelência da escrita e o profundo conhecimento dos temas tornaram-no um dos mais prestigiados críticos de gastronomia e vinhos da imprensa portuguesa, mérito reconhecido além fronteiras.
Vasco Lourenço considerava-o "um grande amigo", "um homem decidido", e recorda à Lusa a troca de palavras que tiveram a 24 de Abril de 1974: "Perguntei-lhe se sabia rezar, e ele estranhou a pergunta. E disse-lhe que se ele soubesse rezar, pedia-lhe que o fizesse nessa noite. Ele percebeu logo e disse-lhe apenas: Vamos lá preparar-nos."
O crítico gastronómico José Quitério, do jornal Expresso, sublinhou à Lusa que "David Lopes Ramos desde há alguns anos fazia a melhor crítica gastronómica em Portugal". Lembra-o como "um modelo de competência, honestidade, quer na sua vida profissional quer na sua vida pessoal. Era ouro de lei. Será para mim um amigo insubstituível e o seu lugar é também insubstituível na crítica gastronómica".