Os Arctic Monkeys eram a banda mais aguardada da primeira noite de Super Bock Super Rock e conquistaram a multidão logo aos primeiros acordes.
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O regresso dos Arctic Monkeys, dois anos depois de terem atuado neste mesmo palco, era o momento pelo qual grande parte do público que, esta quinta-feira, se encontrava na Herdade do Cabeço da Flauta aguardava. Um "AM" gigante ao fundo do palco foi enchendo o olho durante a tarde, mas quando as letras se iluminaram estava dado o tiro de partida para uma hora e meia do melhor dos Arctic Monkeys.
"Do I Wanna Know?", single do próximo disco, "AM", que deverá sair em setembro, abriu uma atuação enérgica, com uma banda mais madura e com uma noção de espetáculo mais apurada do que aquela a que tínhamos assistido anteriormente.
Seguiram-se "Brianstorm" e "Dancing shoes", que abririam caminho para um alinhamento que atravessou todos os álbuns da banda. Das eletrizantes "Teddy Picker", "I Bet You Look Good on the Dancefloor" e "Fluorescent Adolescent" - que só não fizeram levantar pó porque estávamos no primeiro dia de festival - , às mais calmas "Cornerstone" ou "Suck it and see", houve Arctic Monkeys para todos os gostos.
Alex Turner, o vocalista, mostrou-se mais comunicativo e com vontade de dar um ar da sua graça, ora a puxar do pente para ajeitar o cabelo, ora a lançar elogios às meninas do público (que eram muitas, em especial junto ao palco).
"R U Mine?", que antecipa o novo álbum, foi das últimas canções a soar no recinto e a apontar para o futuro do quarteto britânico. Para já, a certeza de que foram os únicos a conseguir estar em plena sintonia com o público neste primeiro dia de festival.
Smiths recordados no Meco
Johnny Marr é ex-guitarrista dos The Smiths e fez questão de relembrá-lo na sua estreia a solo nos palcos portugueses. O músico britânico veio apresentar as canções do seu disco de estreia, "The Messenger", para uma plateia que estava em contagem decrescente para assistir ao espetáculo dos Arctic Monkeys.
"The right thing right" foi a primeira canção a ouvir-se no recinto, mas foi "Stop me if you think you've heard this one before", dos Smiths, que chamou a atenção da plateia. E o concerto seguiria esta oscilação até ao final, com as canções de Smiths a mereceram mais atenção.
"Bigmouth strikes again", "How soon is now?" e "There is a light there never goes out" foram outros dos êxitos dos Smiths que Marr trouxe à Herdade do Cabeço da Flauta, e que encheram a alma a muitos saudosistas. Por entre canções suas, como "Upstarts" ou "Generate!Generate!", o músico fez ainda uma passagem por "Getting away with it", dos Eletronic (banda que partilhou com Bernard Sumner, dos New Order) e por "I fought the law", popularizada pelos The Clash.
Marr continua a mostrar-se um mestre a dedilhar a guitarra e revelou grande à vontade neste novo lugar que ocupa frente ao microfone. O rock experiente que trouxe ao SBSR passou ao lado dos muitos adolescentes na plateia, unicamente à espera dos cabeças-de-cartaz da noite.
Antes, a estreia da rapper norte-americana Azealia Banks em Portugal, depois de no ano passado ter cancelado a atuação no Meco. Com um microvestido que deixava pouco à imaginação, Azealia fez-se acompanhar em palco por um DJ e dois dançarinos e começou logo por lançar o repto: "Portugal, façam barulho." Mas barulho fez-se mais em cima do palco do que fora dele.
Azealia é vibrante e dispara canção atrás de canção, quase sem pausas. Não faltam singles como "Atlantis" ou "Van Vogue", mas o público parece não estar a par do repertório da curta carreira da cantora, cujo muito anunciado disco de estreia, "Broke with Expensive Taste", ainda está por sair.
"Luxury" ou "Esta noche", retiradas da mixtape "Fantasea", animaram a plateia, mas "Liquorice" ou "212" é que cumpriram a difícil missão de chegar aos corações de quem estava nas primeiras filas. "Yung Rapunxel", primeiro single do disco de debute, encerrou um concerto que não chegou aos 60 minutos e que ficou àquem das expectativas.
Ainda Azealia Banks pisava o palco principal, já os dinamarqueses Efterklang espalhavam uma música idílica e minuciosa no palco EDP. Rodeados por uma multidão generosa, os Efterklang desfizeram-se em simpatias com o público, que pareceu pouco receptivo aos apelos de Casper Clausen, vocalista da banda. Casper brincou com um cartaz em que eram pedidas as baquetas; trouxe recordações do último concerto que deram, na Estónia, e distribuiu-as pelo público, e quis mesmo chamar "os espíritos do verão" para virem dar alguma cor a um festival que começou com um dia cinzento.
A aparente apatia do público não beliscou, contudo, a atuação dos dinamarqueses, que ofereceram canções como "The Ghost" e "Black Summer", cujos detalhes merecem ser escutados ao vivo.
Super Bock Super Rock arranca em português
Kalú, o mítico baterista dos Xutos e Pontapés, e as Anarchicks foram os primeiros a atuar no arranque de Super Bock Super Rock.
Depois de mais de 30 anos atrás da bateria dos Xutos e Pontapés, Kalú deu o salto e arriscou-se com um disco a solo, que apresentou, esta quinta-feira, na Herdade do Cabeço da Flauta. É uma revelação ver a garra com que Kalú assume a posição de vocalista, fazendo esquecer o lugar que lhe está destinado na história do rock português. "Pela Noite Dentro" e "Comunicação" foram das primeiras canções tocadas pela banda, para uma plateia escassa. Do outro lado do recinto, os Trêsporcento faziam concorrência, com muito público jovem a assistir ao concerto dos autores de "Elefantes Azuis".
Às Anarchicks coube a missão de abrirem o palco principal do festival, às 20.30 horas, com o seu punk rock inspirado na escola "Riot girl". A banda, que tem dado que falar por ocupar um lugar praticamente vazio na música portuguesa, desfiou as canções do disco de estreia, "Really?!", que serviram para começar a aquecer a noite à medida que o recinto ia enchendo. Em palco, o quarteto mune-se de guitarras, bateria e sintetizadores para fazer a festa com assinatura feminina, mas o público deu uma reposta tímida às investidas do grupo.
Neste primeiro dia, foram poucos os festivaleiros que optaram por chegar cedo ao recinto. Muitos atravessavam-no em direção ao parque de campismo ainda com tendas e lancheiras na mão, outros enrolados nas toalhas de praia devido ao frio que se fazia sentir no Meco. A meteorologia não tem sorrido aos festivais de verão, que têm sido emoldurados por um pesado céu cinzento.
Enquanto os espetáculos não começavam, havia quem aproveitasse para jogar às cartas, correr os stands dos patrocinadores à procura dos melhores brindes ou simplesmente guardasse lugar para os concertos da noite.
"Alex, a setlist ou um abraço", podia ler-se no pedaço de cartão que Salomé Reis, de 21 anos, guardava junto às grades do palco principal. Fã dos Arctic Monkeys - em especial do vocalista, Alex Turner - desde os 14 anos, viu-os ao vivo, há dois, neste mesmo palco, mas espera que o concerto deste ano supere o anterior. Depois de ter assistido, online, ao espetáculo que o grupo britânico deu em Glastonbury, a 27 de junho, espera que no SBSR se ouçam canções do novo disco, "AM".
"Mardy Bum" tocada com um violino, tal como no festival inglês, é um dos mimos que Salomé espera ouvir nesta passagem da banda por Portugal.
Cátia Silva e Ana Costa também vêm com o concerto de Glastonbury na cabeça. Querem ouvir músicas novas, como "Do I Wanna Know?" e "R U Mine", e garantem que este é o único espetáculo que querem ver no primeiro dia SBSR.