A multidão formou uma espécie de concha, agigantou-se para os lados das colinas, ergueu os braços com o apelo e lá em baixo surgiu electricidade em erupção: os Metallica, a maior banda de heavy metal da história, acenderam o rastilho.
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E tudo explodiu com "Hit the lights" e "Master of Puppets" a abrir caminho para uma viagem do total repertório do "Black Album", uma dúzia de canções sobejamente afamadas como "Nothing else matters", "Unforgiven" ou "Enter Sandman".
O final, cena abrasiva e plena de aparato pirotécnico, deu-se com "One" e a estupenda "Seek and destroy". Final triunfante perto das duas da madrugada.
Brindes, metal e bronca no metro Rock in Rio
No Rock in Rio Lisboa há espaço para muita coisa: música, compras e palhaçada com os amigos. Ontem, primeiro dia, quase inteiramente dedicado ao metal, estavam 40 mil pessoas ao início da noite.
As portas do Parque da Bela Vista abriram às 16 horas e, de imediato, o público desatou numa corrida desatada à caça do brinde grátis: cabeleiras rosa em forma de crista galinácea ou sofás insufláveis e uma parafernália imensa de presentes dos patrocinadores.
O recinto está muito bem desenhado para receber multidões, as condições são excelentes. A limpeza é irrepreensível e, mesmo que tudo pareça uma Disneyland, há coisas que acabam por fazer sentido. A "Rock Street", apresentada como "uma rua cenográfica inspirada em Nova Orleães" é disso cabal exemplo: uma série de casinhas todas bonitinhas ao lado uma das outras e com pormenores como um coreto para concertos de jazz ou curiosidades bizarras.
Quando a multidão esperava a aparição dos Sepultura, estalou a bronca: um primata subiu ao palco e, depois de algumas falinhas mansas, acabou por informar a plebe de que o metropolitano, afinal, já não funcionaria até às 3.30 da madrugada, fechando portas à uma e pico. Desatou ainda num discurso confuso com indicações de nomes de ruas, cruzamentos, sentidos e direções, mas é claro que ninguém percebeu patavina. Mais tarde, soube-se que o público rumaria a casa de autocarro ou no desenrasca.
Há cada vez menos metaleiros de cabelo comprido - eis uma das conclusões do primeiro dia do Rock in Rio. Com efeito, se outrora nestes concertos abundavam as longas crinas rodopiantes, agora, são raras semelhantes ventoinhas capilares: isto porque ou o povo envelhece e perde cabelo ou prefere adoptar um penteado consoante a anuência do patrão. Mas a vontade ou a necessidade de evasão através daquela música vagamente extrema continua lá - e é isso que importa: a tribo metálica continua a revelar assinalável militância a absorver e exteriorizar o vigor que ali vibra.
Mas nem só de metal viveu o primeiro dia. Aliás, o arranque do festival dificilmente poderia ter sido melhor: os Mão Morta foram sublimes no primeiro de todos os concertos do certame. A banda de Braga, atuando no palco Sunset, usufruiu de um som potente e nítido. E disparou artilharia fortíssima, sem espaço para respirar: "Aum", "Amesterdão", "Barcelona", "Paris" e outras pérolas. Membros dos Mundo Cão também participaram, assim como o grande escritor valter hugo mãe em "E se depois".