África foi novamente descoberta. Não por nenhum povo em particular, mas pelo Mundo inteiro. "Este é o Mundial de África", gritou o presidente sul-africano, Jacob Zuma, durante a cerimónia de abertura do Mundial de Futebol de 2010.
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Os sul-africanos de Joanesburgo acordaram cedo. Na verdade, muitos nem terão pregado olho. A tribo do futebol começou a mover-se em direcção ao estádio Soccer City, no emblemático Soweto, bairro nos arredores da cidade, por volta das seis da manhã. Muitos a pé. Iam parando nos cruzamentos, nas estações de serviço, abraçavam-se, entoavam cânticos africanos, sopravam nas cornetas mais conhecidas do Mundo. O dia da celebração rimava mais com uma final do que com um jogo de abertura. Mas isso pouco importava. A festa não se vergava à força das regras.
Soccer City foi-se alimentando aos poucos de gente. Quando a cerimónia começou, sobravam algumas clareiras. Imaginem hora de ponta na VCI ou na Segunda Circular e agora multipliquem por dez. Aí têm a explicação.
As coreografias no relvado, interpretadas por milhares de figurantes, inspiraram-se no imaginário africano. África mostrou-se ao Mundo como o Mundo a vê: com danças tribais, interjeições guturais de feiticeiros, alegria esfuziante. Até um escaravelho gigante deu uns toques na jabulani, a bola oficial da competição que os jogadores brasileiros dizem ser de supermercado.
No relvado, o simbolismo de uma manta de retalhos ajudava a retratar as várias "Áfricas" divididas, nações que agora se querem unir em torno do mesmo objectivo.
Depois, a estrela pop norte-americana R. Kelly levantou os braços em direcção ao céu e cantou "Sign of a vitory", hino oficial da prova, naquele que foi talvez o momento mais emotivo do espectáculo de abertura. Aviões faziam voos rasantes e deixavam os africanos ainda com mais vontade de colocar os pulmões ao serviço das vuvuzelas. Na bancada vip, a ex-top-model Naomi Campbell aplaudia e apenas os modernaços óculos de sol que exibia escondiam a emoção que devia estar a sentir.
Mas, na mesma bancada vip, havia uma cadeira vazia. "Madiba", Nelson Mandela, não compareceu à festa. Na noite anterior, a bisneta morrera na sequência de um acidente de viação. E Mandela, 91 anos, debilitado, ficou a fazer o luto em casa - embora, como sublinhou Joseph Blatter, presidente da FIFA, "o seu espírito esteja aqui em Soccer City". Mas "Madiba" pediu a Zuma para deixar esta mensagem ao Mundo: "O jogo deve começar. E vocês devem aproveitar o jogo".
Soccer City fez jus ao apelo do "pai" da nação. "África está muito feliz. Este é o Mundial de África", gritou o presidente sul-africano. "Yes, yes, yes! A hora de África chegou".