<p>Diferença de meios entre os dois principais partidos que estão na estrada é ainda mais notória com a opção do PSD por uma volta espartana e de esclarecimento.</p>
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Estivéssemos nós não em tempo de eleições mas, digamos, num concurso de espalhafato, os socialistas não só renovariam a maioria absoluta como, provavelmente, ficariam quase sozinhos no hemiciclo de S. Bento. Em comparação com a caravana do PSD, que acompanhamos diariamente, a máquina socrática, que pudemos espreitar no comício de Leiria, não parece de outro país, mas de outro planeta. Gasta-se ali muito, mas muito mais dinheiro.
O que é, então, a caravana de Manuela Ferreira Leite? Três automóveis - um Volkswagen Passat e dois Audi A6 - acompanhados das três carrinhas de nove lugares dos 24 elementos da JSD que, pela estrada fora, têm a tarefa de estimular o povo. De resto, onde houver sessões públicas em recinto fechado, a coisa mais parecida com um comício que há na campanha laranja, é montado um pequeno pódio e o cenário com a frase "política de verdade" que se vê nas televisões, além de os lugares serem polvilhados com bandeiras. Ponto final.
Em que difere, então, o PS, aos olhos de um transeunte? Onde há comício, monta-se uma arena quadrangular, com bancadas, no meio da qual falará o líder, com potentíssima aparelhagem sonora a passar a mensagem (há ainda um camião posto a certa distância, com altifalantes, para que mesmo que não quer ouça o discurso). Há muitos mais jovens a dar a volta. Há um ecrã gigante atrás de Sócrates. Há câmaras, uma das quais montada numa grua. Há uma quantidade razoável de monovolumes cuidadosamente preparados. Há um autocarro em que os jornalistas têm ao dispor todos os meios técnicos facilitadores da tarefa de informar... Há dinheiro, mas muito mais dinheiro.
Só os ecrãs gigantes custam, numa campanha destas, muitas centenas de milhares de euros. "No nosso maior comício, que foi em Barcelos, gastámos 15 mil euros" diz-nos Emídio Guerreiro, o director da volta social-democrata, responsável pelas operações, a par de Agostinho Branquinho, o director de campanha, ambos sob a alçada do secretário-geral, Luís Marques Guedes. Acrescenta Guerreiro, a propósito da máquina socialista: "Eles têm, realmente, uma logística impressionante: cara, mas eficaz".
Gostaria ele que fosse assim com o PSD? "Claro que gostava, mas não temos orçamento para nada disso", responde.
Tem sido dito pelos sociais-democratas, desde a primeira hora, que várias são as razões para a natureza espartana desta campanha. "A nossa intenção é fazer uma campanha de esclarecimento, e os comícios não esclarecem ninguém", argumentou a própria Manuela Ferreira Leite, no início do mês, quando se encontrou com os jornalistas que agora a acompanham. Por outro lado, o PSD deixou a mensagem de que, em tempo de crise, gastos sumptuários seriam imorais. Mas é nítido que há menos dinheiro. Muito menos dinheiro.
De que forma serão estas diferenças traduzidas em votos? Nas eleições europeias, as primeiras deste ano, a diferença era já abissal, mas isso não impediu o PSD de sair vencedor. Claro que, então, houve outro factor, a abstenção, que poderá ter baralhado as contas. Mas só na noite de 27 saberemos o que rende mais: ser o Obama português ou ser a rainha da poupança.