<p>Os números são mais fiáveis do que o algodão: não enganam de todo. Porém, quando apurados em estudos de opinião, devem ser apenas encarados como o tomar de pulso ao eleitorado em determinado momento. É por isso que vale a pena analisar a evolução das intenções de voto.</p>
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Na primeira das três sondagens da responsabilidade da Universidade Católica que temos vindo a publicar, o PSD alcançou 35%. Registava um empate técnico com o PS, que dispunha de um ligeiro avanço de dois pontos percentuais. Podia, portanto, almejar uma disputa taco-a-taco pelo triunfo nas eleições de domingo.
Quando os inquiridores voltaram ao terreno, no início da campanha eleitoral oficial, constaram uma diminuição das intenções de voto com algum significado, que agora se confirma. A perda de 5% só em parte beneficiou o PS. Terá sido mais numerosa a "fuga" de votos para o CDS, que adquiriu "cabedais" para uma eventual participação no Governo.
O que pode explicar a estabilidade do PS e o "trambolhão" social-democrata num período tão curto? Até que ponto acontecimentos políticos - ou mediáticos com impacto político - tiveram influência neste cenário? Em que medida a campanha eleitoral, em vez de mobilizar o eleitorado, contribuiu para acentuar a erosão da base de apoio do PSD? É tão ousado responder de forma cabal a estas perguntas como dar como eleitoralmente adquiridos os resultados de uma sondagem.
A suspensão da edição das sextas-feiras do "Jornal Nacional" da TVI foi o primeiro grande caso a entrar no discurso de pré-campanha. Serviu de pretexto a Manuela Ferreira Leite para introduzir o tema da "asfixia democrática", que perderia fôlego com o último episódio do caso das escutas em Belém, a demissão do assessor principal do presidente.
O afastamento de Manuela Moura Guedes terá penalizado o PS - asssim foi, então, percepcionado. Sócrates nunca escondeu as críticas ao programa, verbalizadas em pleno congresso do partido, o que deu consistência à suspeita de que teria influenciado a decisão da empresa proprietária da TVI. Já a história das escutas foi interpretada como um tiro fatal na campanha social-democrata, quer por analistas políticos, quer pelo próprio Pacheco Pereira, regressado às lides como candidato a deputado pelo PSD.
Pelo meio, outros acontecimentos podem ter determinado escolhas eleitorais. A saber: a entrada em força de "históricos" nas campanhas dos dois maiores partidos e a notícia da revista "Sábado" sobre a compra de votos de militantes do PSD em eleições para a Distrital de Lisboa.