O tradicional "silêncio que se vai cantar o fado" foi substituído, ontem, sexta-feira, no Festival Sudoeste, na Zambujeira do Mar, por gritos e palmas para receber Mariza. Hoje, sábado, os Faith No More têm cerca de 30 mil pessoas à espera deles.
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Depois do concerto de Mariza, cabeça de cartaz do segundo dia do Sudoeste, a noite seguiu em português de raízes fadistas, mas desta vez com o tom castiço dos Deolinda.
Ana Bacalhau, a vocalista, rodeada dos naperons que decoravam o palco, desfiou pequenas estórias em tom teatral antes da entrada de cada música. “Fon Fon Fon”, uma das canções mais conhecidas, teve direito a mini banda filarmónica e a uma tuba em palco, instrumento de que não se costumam fazer acompanhar.
“Movimento Perpétuo Associativo”, a última música que tocaram, levou para palco as várias dançarinas que os tinham acompanhado em outras músicas, num clima de bailarico de associação recreativa.
Após a saída de palco, os Deolinda voltaram a aparecer, mas desta vez no recinto, no topo de um autocarro, a lançar confetis e a repetir no megafone “vão sem mim que eu vou lá ter”, refrão de “Movimento Perpétuo Associativo”.
Mariza, que entrou em palco de saia comprida e casaco de cabedal, tão informal como o fado pode ser neste cenário, saltou e bateu palmas com o público, gritando "Boa noite, Sudoeste".
O público acorreu para ouvir a mais internacional das fadistas portuguesas, que, à quarta música, dançou com Tito Paris "Beijo de saudade".
Num concerto pensado para o festival, Mariza cativou o público, mostrando as várias faces que o fado poder ter. Para muitos, o concerto foi uma surpresa, onde houve espaço para fado tradicional, percussão, Tito Paris a cantar “Sôdade” ou para a fadista fazer uma sentida interpretação de “Hedonism”, dos Skunk Anansie.
Antes, quando o êxito "Beggin", dos Madcon, se ouviu no recinto do Sudoeste, muitas vozes fizeram coro, já o concerto ia a meio. Esta música, que muito se ouviu na rádio no último ano, tornou o duo Tshawe Baqwa e Yosef Wolde-Mariamem conhecido do grande público, apesar de existirem desde 1992.
São noruegueses mas, se não dissessem, ninguém adivinharia. Trouxeram até ao Alentejo uma fusão quente de hip-hop, reggae, soul e funk, muito bem doseada e acompanhada por uma banda de cinco músicos que em muito engrandeceram o espectáculo. A boa vibração em palco fez ressonância no público, que não ficou parado e fez eco dos "yeah yeah yeahs" dos músicos, uma vez que a única letra do conhecimento comum era a de "Beggin".
O segundo dia de concertos na Zambujeira do Mar começou com Carlinhos Brown, às 20 horas, hora ingrata para quem vem com o samba a palpitar e vontade de dar espectáculo. Em palco, Brown fez-se acompanhar por nove músicos, quase tantas pessoas como as que se encontravam no público assim que o concerto começou. O avançar da hora trouxe mais gente ao palco principal, permitindo ao brasileiro ver uns passos de dança ao som da sua "axé music".
Quando soaram os primeiros acordes de "Velha infância", canção do projecto Tribalistas, que integrou com Marisa Monte e Arnaldo Antunes, o público trauteou a letra, prova do sucesso que tiveram em Portugal e que, para muitos, foi a carta de apresentação do músico em Portugal.
No fosso que separa o palco do público, ainda se encontravam os despojos da festa que os Buraka Som Sistema tinham dado na noite anterior, na quinta-feira, a primeira de concertos no Sudoeste. Os Buraka entraram em palco com uma dose de energia que transfigurou o cenário calmo que se tinha vivido no recinto até então, fazendo os corpos dançar furiosamente com o seu kuduro progressivo.
A fechar o palco Planeta Sudoeste, uma das surpresas da noite, a enérgica Ebony Bones, que tem feito furor nos palcos internacionais. Apesar de só ter actuado 30 minutos, devido à hora e meia de atraso que marcou a primeira noite desse palco, fica a promessa de uma grande artista, com um som que se cruza com o de M.I.A e Santogold, plena de cor e teatralidade.