<p>Natércia Cardeano, social-democrata que em tempos presidiu ao Sindicato dos Professores da Zona Norte, era mais uma pessoa espremida no caos de Santa Catarina. Estava ali para saudar Manuela Ferreira Leite, que em tempos foi ministra da Educação. E só o conseguiu fazer porque Manuela Ferreira Leite a vislumbrou pelo canto do olho, esticando a mão e o sorriso quando começava a ser arrastada para aquela que foi, até ao momento, a maior acção de campanha do PSD. No Porto houve festa, quezílias, calor, vivas ao presidenta da Câmara - já em campanha - e, porventura, a esperança em que as sondagens falhem, como sucedeu na eleição para o Parlamento Europeu.</p>
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Era a Praça da Batalha o ponto de partida para a arruada portuense, mas cedo se percebeu que era uma jogada de risco. Estacionado mais adiante, um camião do PS lembrava que, depois, José Sócrates iria fazer o mesmo percurso. Foi medida acertada, portanto, transferir o arranque para o cruzamento das ruas de Santa Catarina e de Passos Manuel. Pequenas altercações que houve, durante a espera, indiciavam que o cruzamento excessivo entre os dois partidos poderia dar bernarda.
A presidente do PSD, que não aparecia em cena desde pouco depois do meio-dia, na visita a uma empresa em Vila Nova de Gaia, surgiu depois das 16.30, sorridente e, decerto, surpreendida com a dimensão daquilo que as estruturas locais do partido colocaram no terreno e, reconheça-se, do que foi a mobilização espontânea dos portuenses afectos ao partido.
Como sempre, a presidente social-democrata cumpriu o percurso (bem mais longo do que tem sido habitual) inserida numa espécie de casulo vivo, formado pela JSD e pelos repórteres de imagem. Olhando-se para cima, além da degradação das casas devolutas, era possível perceber que, às janelas, estavam os que melhor podiam ver a candidata a primeira-ministra, excepção feita ao momento em que esta, juntamente com José Pedro Aguiar Branco, Rui Rio e Marco António Costa, subiu a um banco, em frente ao centro comercial Via Catarina.
Aos vivas ao PSD e às palavras de ordem que os jotas têm repetido exaustivamente, somavam-se, claro, alguns apupos de gente que passava ou das vendedeiras mais exaltadas, mesmo que em tom de gozo, como fazia uma, bradando como se de um pregão se tratasse: "Isto é dos ricos, c...! Nós somos pobrezinhas!..."
E os turistas, claro, pasmados com a inesperada atracção. De passagem, todos os passageiros de um dos autocarros "Porto Vintage" da STCP, sorrindo, fotografavam e filmavam a "onda laranja", esquecendo-se de olhar para os monumentos.
Na ressaca das arruadas, sobravam pelas ruas da cidade bandeiras laranja, caídas no ombro, enroladas ou esvoaçando em carros que continuavam o que havia acabado. Os dirigentes, para recuperar energias, visitaram o café Progresso, que ontem fez 110 anos, falando da intensidade que haviam acabado de testemunhar. O povo desmobilizava, exactamente da mesma forma como os adeptos de futebol saem dos estádios, porque, para muitos, é feita do mesmo espírito a a vida partidária.