António Capelo acusado de assédio por ex-alunos e jovens. Ator nega e apresenta queixa
Vários jovens, incluindo antigos alunos, acusam o ator António Capelo de assédio, tanto nas redes sociais como em contexto de sala de aula, ao longo de anos. O ator nega conduta imprópria e afirma que os gestos de proximidade visavam apenas apoio educativo e afetivo.
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O ator António Capelo, de 69 anos, está a ser acusado por várias dezenas de jovens, incluindo antigos alunos da ACE Escola de Artes - Teatro do Bolhão, de assédio sexual e moral. As alegações referem comportamentos que terão ocorrido ao longo de vários anos, contra alunos menores de idade, e incluem mensagens enviadas através das redes sociais. O JN tentou contactar o ator mas não obteve resposta. Capelo afirmou, em comunicado, que o afeto demonstrado não teve qualquer propósito desadequado.
Nas publicações divulgadas por antigos estudantes no Instagram, algumas das mensagens atribuídas a Capelo incluem frases como "És gay?", "[Estou com] falta de sexo" e "Queres vir?". Segundo relatos, o envio destas mensagens era persistente e, muitas vezes, insistente, mesmo quando não obtinha resposta.
Vários jovens recordam SMS nas quais Capelo os convidava a encontrarem-se em público ou a sós, nomeadamente na sua casa, no Douro, e alegam que, perante sucessivas recusas ou em caso de denúncia, o ator prometia prejudicá-los no decorrer do curso e profissionalmente. "No que depender de mim, nunca terás trabalho nesta cidade", terá dito a um dos jovens.
Alguns denunciantes afirmam que as abordagens extravasaram as redes sociais e ocorreram em contexto de sala de aula, na ACE, com relatos de situações consideradas assédio sexual. Um dos alunos afirma ter recebido convites para encontros fora da escola desde os 16 anos. Outro jovem recorda episódios em que o ator, durante exercícios de interpretação, se deitou em cima dele, questionando de forma sugestiva se sentia o seu peso.
Capelo move queixa-crime
António Capelo, confrontado com as acusações, esclareceu que moveu uma queixa-crime contra uma página anónima no Instagram e aguarda o desenrolar dos acontecimentos. Ao JN, o ator garante que os gestos de proximidade, de afeto ou de apoio aos alunos - incluindo abraços, empréstimos de livros e partilha de refeições - nunca tiveram outro objetivo que não o de educar e apoiar os estudantes.
Por sua vez, a ACE Escola de Artes - Teatro do Bolhão rejeitou as acusações de cumplicidade. A instituição afirma não ter recebido qualquer queixa formal contra Capelo e esclarece que o ator já não leciona na escola há três anos, tendo cessado funções como diretor artístico. A escola sublinha que mantém mecanismos de prevenção de situações de assédio e discriminação, incluindo comissões de ética e canais de denúncia.
Entretanto, esta terça-feira, o Bloco de Esquerda confirmou, em comunicado, que "recebeu na semana passada, por parte de uma pessoa, eleita local do Bloco e antigo aluno do ator António Capelo, o relato presencial de atos muito graves cometidos por este professor de teatro". Na mesma nota, o partido afirmou ainda que António Capelo "nunca foi aderente do Bloco de Esquerda", mas assumiu que o ator "participou com visibilidade em campanhas eleitorais passadas do Bloco". O partido manifestou solidariedade para com as vítimas e reforçou a necessidade de apresentação de queixas nas instâncias competentes.
Professor de dança também acusado de assédio
Nos últimos meses, um professor de dança do Porto também foi visado em várias acusações de assédio por dezenas de ex-alunas, algumas menores na altura. As jovens divulgaram conversas em que o docente, atualmente fisioterapeuta, usava expressões como "meu anjo", "meu amor" ou "completamente apaixonado", enviando fotos em tronco nu e vídeos com gestos melosos. Algumas mensagens incluíam convites sugestivos e comentários sobre a aparência das estudantes.
A ACE Escola de Artes, onde o professor lecionava, confirmou que o afastou em abril de 2025, após queixas internas. A direção da escola garante que mantém mecanismos claros para prevenir e reagir a situações de abuso e assédio, reiterando o compromisso com o respeito pelas pessoas da comunidade escolar. Outras instituições onde o professor colaborou garantem não ter recebido denúncias durante os períodos em que este lecionou de forma esporádica.
Até ao momento, o professor não reagiu publicamente às acusações. Algumas vítimas optaram por não apresentar queixa às autoridades, temendo repercussões na carreira artística ou pessoal.