<p>As questões relacionadas com a carreira docente são prioritárias nos programas eleitorais. Professores e Confederação de Associações de Pais concordam. Um psicólogo condena a quase redução da Educação à "politica laboral".</p>
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A suspensão e substituição do modelo de avaliação dos professores, o fim da divisão da carreira e das quotas são garantias e prioridades dos programas do PSD, CDS, BE e PCP. Os quatro partidos da Oposição correspondem assim às principais reivindicações dos docentes. O PS promete negociar um modelo "efectivo" para o futuro.
Nunca antes os sindicatos de professores se tinham unido durante tanto tempo. Frescas na memória colectiva ainda estão as manifestações de 100 mil e 120 mil pessoas ou greves com adesões a rondar os 90%. Valeu a pena? "Valeu, com certeza", responde o presidente da FNE, João Dias da Silva. O secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, concorda: "A Educação está agora no centro da agenda política".
E o resto, o combate ao abandono e insucesso escolar - que nos continuam a colocar na cauda da Europa - e a revisão curricular e de ciclos de ensino, por exemplo? São temas e prioridades que constam, igualmente, de todos os programas mas não de forma tão clara ou desenvolvida. Foram relegados para segundo plano? Não, respondem os dirigentes ao JN.
Nogueira, por exemplo, defende "que os programas podem ajudar a perceber a importância dada" ao sector por cada partido. No entanto, sublinha, a maioria das propostas são "difusas, vagas e generalistas". O presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, Albino Almeida, também reconhece a necessidade de o próximo Executivo começar por corrigir "os constrangimentos" do Estatuto da Carreira Docente, antes de tomar outras medidas, como o reforço da autonomia das escolas e a revisão curricular do 3º ciclo.
Para o líder da Associação Nacional de Professores, João Grancho, os programas revelam duas concepções da Educação - uma como serviço público, outra centrada na responsabilidade do Estado - que correspondem à divisão Direita-Esquerda. Confronto facilmente compreendido quando se comparam os programas do PSD e do BE. Os primeiros defendem uma escola mais heterogénea, um currículo nacional "mínimo", aprovado pela tutela e completado por cada escola, de acordo com o seu projecto educativo; os segundos são favoráveis à gratuitidade do ensino e ao princípio da "escola para todos".
Totalmente à margem dos problemas relacionados com a carreira, João Lopes, professor da Universidade do Minho, afirmou ao JN que a Educação em Portugal é sinónimo de "política laboral". Daí que tudo o resto fique fora dos programas eleitorais, que considera "basicamente idênticos". Psicólogo, especialista em Ciências da Educação, nota que a escolaridade obrigatória de 12 anos foi aprovada por unanimidade quando a de nove anos "não está minimamente cumprida".